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Comandante da Estação de Radar N.º 1, Major Joaquim Monteiro: “É este o nosso dia-a-dia, desafiante”

Trabalho de Diogo Petreques

Situada a cerca de 900 metros de altitude, a Estação de Radar N.º 1 da Força Aérea Portuguesa está presente no topo da Foia há 33 anos. No seguimento do Dia da Unidade Aberta, o comandante, Major Joaquim Monteiro, abriu-nos as portas para falar sobre a missão diária dos militares que coordena.

O topo da Foia alberga uma estrutura coroada por uma semi-esfera, rodeada por um perímetro composto por grades e arame farpado. O portão inclui um intercomunicador que serve para entrar em contacto com quem concede a devida permissão para a aproximação das instalações. Estas compõem a Estação de Radar N.º 1 (ER1) da Força Aérea Portuguesa. Lentamente, o portão desliza e a viatura na qual me encontro avança pelo curto trecho de estrada até ao parque de estacionamento.

Em frente da entrada das instalações, o comandante da unidade, o Major Joaquim Isaías Monteiro, aguarda a nossa chegada. Após os cumprimentos formais, o oficial superior acompanha-nos até ao interior da ER1. Somos recebidos também pela Sargento-Ajudante Duarte. Depois de conhecermos alguns membros da unidade e as instalações e de percorrermos o corredor que dá acesso ao gabinete do comandante, sentamo-nos com o Major à volta de uma mesa.

Começamos por conhecer as razões que o levaram a ocupar o cargo atual. O oficial confessa que “fui surpreendido, não imaginava que me iam fazer essa proposta e ser comandante é algo que não se pode negar, claro”. “Fiquei muito feliz porque ser comandante numa unidade da Força Aérea enche-nos de orgulho e desde esse momento que tenho olhado sempre para a missão que me foi atribuída com grande responsabilidade e é por aí que quero seguir e conseguir orientar e comandar as pessoas que de mim dependem”, acrescenta. O Major esclarece que, “por norma, ser comandante de uma unidade acontece uma vez e não é com todos os militares”, aproveitando para explicar que “numa base aérea serão comandantes quem tenha a função de piloto de aviões, porque têm meios aéreos na unidade. Aqui, como é mais técnico, é tudo o que tenha a ver com eletrotecnia, eletrónica ou telecomunicações”.

Joaquim Monteiro revela também as “muitas responsabilidades” que um cargo destes acarreta. O Major menciona que “todos os dias há aqui algo em que pensar, algo a alterar, o que não nos deixa grande margem para descansarmos”. O oficial afirma que, “desde logo, temos de garantir que as pessoas se sentem bem no seu local de trabalho, que se sentem funcionais, ou seja, que contribuem diariamente para aquilo que é a missão da unidade”. O comandante acrescenta que há que “manter a infraestrutura a funcionar, arranjar dinheiro, soluções, alternativas, todos os dias. O desafio de ser comandante é isto mesmo, porque é a pessoa que está acima, que decide e, claro, tem todas as outras para o auxiliarem”. Joaquim Monteiro refere que já trabalhou em radares, “mas não sei tudo sobre os mesmos, especialmente deste tipo, porque trabalhei em radares de avião”, pelo que “cada um na sua área dá-me a sua informação e eu decido em conformidade ou em parceria com quem me ajuda a decidir, sendo que o que pretendo e que tento fazer sempre é decidir mediante evidências”. O Major afirma que “é este o nosso dia-a-dia, desafiante. São muitos assuntos. Felizmente, existem pessoas responsáveis para cada um”, o que leva a que haja “pessoas afetas ao meio-ambiente, à prevenção de acidentes, à manutenção, por exemplo, das infraestruturas, à manutenção ou ao controlo da água para consumo humano”, mas também à “parte administrativa, das aquisições ou do abastecimento”. “Todo este material que é substituído ou que avaria tem de ser coordenado com uma instituição da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a NATO Support and Procurement Agency (NSPA), que, no fundo, é o zelador sobre os spares e o agilizador para mandar reparar às empresas próprias esse material para depois disponibilizar em tempo ou o mais rápido possível caso haja alguma anomalia de facto”, realça.

O responsável pela ER1 adianta que “não sinto que haja falta de pessoas, sinceramente. As pessoas que aqui estão vão tendo muitas ‘acumulações’”, aproveitando para dar o exemplo da Sargento-Ajudante Duarte, mencionando que “eu é que valido as finanças, mas ela é quem toma conta de todo o processo, assim como da secretaria, da parte de comando, da parte de pessoal e a ação social, portanto, cinco ‘acumulações’”. O comandante reitera a ideia de um “dia-a-dia desafiante” com o facto de que “ela está aqui para me ir acompanhando e estar junto a nós porque pode acontecer qualquer coisa e eu ter de lhe pedir para ela tentar agilizar”.

A dada altura, o tópico sobre o reconhecimento da missão da unidade pela comunidade monchiquense é introduzido e o comandante aborda essa questão afirmando que “eu julgo que esta sabe que nós existimos”, mas que “não terá este conhecimento porque nós, até pelas características militares, não estamos abertos de qualquer forma ou não nos damos a conhecer assim tão taxativamente”. Contudo, Joaquim Monteiro informa que foi realizado o Dia da Unidade Aberta este ano, “de forma a que as pessoas se cheguem um pouco junto a nós, que também consigamos mostrar que estamos cá e aquilo que fazemos, de modo a que não vejam aqui uma ‘Black Box’”. “Nós fazemos parte da defesa aérea nacional e foi o que nós tentámos passar no Dia da Unidade Aberta, que a nossa função é garantir a segurança das pessoas e do país”, explica. Ao contrário de edições em anos anteriores, em que “já tinha havido uma tentativa de abrir as portas da unidade e tinham estado duas ou três pessoas”, a atividade deste ano contou com a presença de “cerca de 150 visitantes”, o que “quer dizer que queriam conhecer” a estação.

Outra atividade que o responsável pela ER1 afirma ter sido do agrado do público foi “as demonstrações cinotécnicas”, recordando que “houve pessoas que até trouxeram cães e tentaram perceber como é que os poderiam educar”.

Além desta iniciativa, o oficial superior revela que outras ações já têm sido feitas para a integração do pessoal da unidade na comunidade, como “a apanha da castanha” que aconteceu recentemente e que “não aconteceu nos últimos dois anos por causa da pandemia”.

No entanto, Joaquim Monteiro confessa que ainda não pensou noutra forma de “continuar a cativar pessoas para nos conhecerem”, mas revela que o presidente da Junta de Freguesia de Monchique, José Silva, já propôs “o desafio para nós fazermos uns serões de leitura e depois dialogarmos sobre o livro que lemos, por exemplo”, e que o presidente da Câmara Municipal, Paulo Alves, já sugeriu “fazer uma destila” que contasse com a participação dos elementos da unidade militar. O Major conclui este tópico afirmando que “queremos é estar com a comunidade, integrados e que nos vejam de forma igual”.

Sobre o contributo da Estação de Radar N.º 1 para a comunidade, o oficial superior refere que “o facto de a termos aqui e não termos messe requer logo aquele que é o maior contributo para a comunidade e, neste caso, para a vila”. “Nós adjudicamos serviços de restauração, ou seja, a nossa necessidade de alimentação a um dos restaurantes aqui junto à vila, na vila ou próximo para diminuir o nosso tempo de deslocação”, esclarece. O comandante acrescenta que “um ano inteiro de alimentação representa algum encaixe financeiro para um restaurante ou para qualquer um dos restaurantes” e que tal “é uma mais valia nesse aspeto”.

Joaquim Monteiro confessa que “não temos tido muito sucesso na captação de elementos neste âmbito, mas temos recorrido ao IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) para termos pessoas que eventualmente estejam desempregadas para contribuírem nas ações de manutenção da unidade”, como foi o caso de um elemento que “estava desempregado e a unidade contratou-o, mediante os protocolos que o IEFP tem”. “Sentia-se uma pessoa válida e, quero acreditar que graças a isso, ele conseguiu emprego logo quando saiu e está felicíssimo com o que lhe aconteceu”, revela. Outro contributo para a comunidade tem sido a requisição de “alguns serviços a empreiteiros, a pintores, etc. Ou seja, tudo o que temos necessidade de fazer e para o qual não temos capacidade de mão de obra, vamos ter de contratar”, o que representa “igualmente um volume de trabalho e, claro, de dinheiro”. O responsável pela ER1 menciona ainda a realização de compras numa “drogaria onde adquirimos coisas mais diminutas ou mais pequenas, o que também representa algum dinheiro gasto” e conclui afirmando que “aquilo que acho que é uma mais-valia são os encaixes financeiros que podem advir daqui”.

Atendendo ao que está a decorrer no leste da Europa, não podemos deixar de perguntar que implicações é que a isso pode trazer para esta unidade. O responsável pela ER1 explica que “há quem analise este tipo de coisas, assim como o grau de perigosidade, e, mediante isso, vai difundir aquilo que são os procedimentos de cada unidade”. Embora a estação se encontre “numa situação de grau ‘alpha’, ou seja, uma situação de normalidade no que toca às ações militares”, o comandante revela que “existem medidas um pouco mais restritivas, pois temos de estar mais atentos a determinadas ações”.

Aproveitando esta oportunidade de poder conversar com um comandante da Força Aérea Portuguesa, procuro satisfazer a curiosidade e pergunto se existe algum plano para a renovação da frota e dos F16, aeronaves que já têm cerca 30 anos. Joaquim Monteiro admite que não sabe “responder de todo” a esta questão, mas acredita “que, se estiver em causa a renovação, isso está a ser acautelado, com toda a certeza absoluta. Até existem gestores só para este assunto”. A recente aquisição do avião KC-390 por este ramo das forças armadas faz com que o Major explique o processo através do qual um novo tipo de aeronave é adquirido. O oficial superior refere que “a instituição achou que deveria tê-lo, fez chegar às instâncias certas que necessitaria desta aeronave e, através de fundos específicos, dos LPM, que é a Lei de Programação Militar, acabou por receber estes aviões que vão contribuir para a missão da Força Aérea”. “Todos estes investimentos avultados nascem destas leis em que têm que ser acautelados e depois é dado o aval através do ministro e do governo para se adquirir, pois estas operações envolvem milhões de euros”, acrescenta. O responsável pela Estação de Radar N.º1 assinala que, “para se fazer um investimento assim, este tem de ser sustentado em evidências, não pode ser só porque já existem aviões mais bonitos, velozes ou capazes, tem de haver outras coisas em causa”.

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