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Seminário «Previsão, prevenção e atuação em situações de catástrofe» decorreu em Monchique

Prever, prevenir e atuar foram as três palavras-chave que serviram de mote para a realização do seminário sobre a «Previsão, prevenção e atuação em situações de catástrofe» realizado no dia 22 de junho, no Auditório da caixa Agrícola de Monchique.

As formas de atuação do cidadão comum em caso de catástrofe foram o destaque do encontro. Leonor Bota, diretora executiva do ACES Algarve II Barlavento, referiu, na sessão de abertura, que «todos os olhos da nossa comunidade estão postos nos nossos bombeiros» mas advertiu que o cidadão comum também deve estar formado para saber agir em situações de acidente. A proatividade e o trabalho para «a nossa segurança e dos outros» devem ser primordiais para evitar danos maiores em situações de perigo.

Já para Patricia Carneiro, enfermeira coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Mons Cicus, catástrofe é definida «pela Organização Mundial de Saúde, como um fenómeno ecológico súbito de magnitude suficiente para necessitar de ajuda externa». Com base nesta ideia, a capacitação da população, que é um dos objetivos da UCC Mons Cicus, torna-se fundamental no que respeita a formas de atuação sobre os riscos característicos de determinadas zonas.

Em Monchique, os incêndios são de destacar, sendo este o fenómeno que levanta maiores riscos para a serra algarvia, segundo Rui Lopes, comandante dos Bombeiros Voluntários de Monchique. A prevenção e atuação céleres sempre «foi nossa preocupação», o comandante, que mostrou o seu agrado «por ver a plateia cheia e dececionado por a maioria ser pessoal dos bombeiros e proteção civil», quando o objetivo do seminário era atingir o cidadão comum.

Quanto ao que «aconteceu em Portugal no passado», Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, salientou que os acontecimentos «obrigam a olhar para estes cenários [de risco] de outra forma». «Monchique é uma zona de risco que se tem vindo a preparar ao longo dos anos» para conseguir responder da melhor forma às situações de catástrofe que assolam o concelho.

O édil reforçou, ainda, que «conseguimos prevenir se estivermos preparados para isso», assim a educação para a prevenção do risco se tornam tão importantes no quotidiano, tal como a forma de atuar de maneira responsável perante a situação de catástrofe.

 

«Agentes da Proteção Civil somos todos nós»

A saúde desempenha um «papel fundamental em situações de catástrofe», quem o disse foi Filomena Horta Correia, médica assistente graduada sénior em Saúde Pública e mestre em Medicina de Catástrofe.

Considerando que catástrofes são fenómenos que podem ter origem «natural, tecnológica e  humana, ou serem emergências complexas», Filomena Correia alertou «para a necessidade de avaliar o risco». E como? Numa primeira instância perceber que tipo de situação se está a enfrentar, qual a sua magnitude, a localização exata do sítio onde está a ocorrer o fenómeno e há quanto tempo. A questão de análise de risco está também relacionada com a «probabilidade com que este pode ocorrer em determinado local» e quais as vulnerabilidades existentes para se atuar perante determinada situação.

O caso da serra de Monchique, que é vulnerável às situações de incêndio florestal, deve apostar numa prevenção neste tipo de fenómeno através do planeamento em caso de ocorrência da catástrofe. Pegando nas fases em que as situações se desenvolvem, «no momento pré-incidente é preciso prevenir e planear para se dar resposta ao incidente, quando este ocorrer» e haver um plano para a recuperação.

Para que se possa responder de forma responsável e para se evitar o impacto a nível humano, físico, social, ambiental, económico, escassez alimentar, entre outros, é preciso saber «agir em situação de catástrofe».

O grande desafio que fica lançado sobre este painel diz respeito à  capacidade do cidadão comum saber proteger-se, agir e ajudar o outro. Filomena Correia exemplifica que «se eu ou algum de vocês estiver a ter um ataque, quem é a primeira pessoa que nos vai socorrer? É quem está ao nosso lado. As equipas de salvamento vêm mais tarde. O primeiro a ajudar é que está ao pé de nós».  Por isso reforça que «agentes da proteção civil somos todos nós» e que todos devem estar preparados para saber agir em situação de fenómenos de risco.

 

«Aldeia segura, pessoas seguras»

Nasceu em 2017 na sequência dos grandes incêndios que consumiram o centro do país. O programa «Aldeia segura, pessoas seguras» pretende reforçar a segurança junto das populações através de um conjunto de medidas que devem ser  postas em prática .

Carina Coelho, representante do Comando Distrital de Operações de Socorro de Faro, apresentou o programa e alertou para a proibição de se realizarem queimas e queimadas no período de 1 de julho a 30 de setembro, «porque entraremos no período crítico».

As dicas que enumerou para a situação de incêndios rurais vão desde o «avisar os vizinhos, fechar portas e janelas e regar as paredes, telhado e 10 metros à volta de casa», como «manter uma faixa de proteção e gestão em torno da casa limpa».

Ligar para o 112, evitar a exposição ao fumo, tapar a boca e o nariz com um pano húmido e retirar as viaturas dos caminhos de acesso, são alguns dos comportamentos corretos a adotar para não atrapalhar as ações dos bombeiros, sapadores florestais e forças de socorro. Evitar circular em zonas próximas dos incêndios são condutas responsáveis a adotar.

O kit de evacuação é uma mais valia para estas situações e devem conter um estojo de primeiros socorros, medicação (caso tome medicamentos), água e comida (enlatados, por exemplo), produtos de higiene pessoal, uma muda de roupa, rádio e lanterna a pilhas, dinheiro e lista de contactos de familiares e amigos.

Este programa «Aldeia Segura, Pessoas Seguras» é da autoria da Autoridade Nacional de Proteção Civil.

 

Monchique pioneiro com programa «Animal seguro»

O programa «Animal Seguro» surgiu no concelho de Monchique como projeto pioneiro para proteger e salvar os animais em situação de incêndio rural.

O desafio lançado por Rui André a Ana Silva, médica veterinária do município de Monchique, apresentou o programa que surgiu devido ao facto de «grande parte da população possuir animais domésticos, quer sejam destinados a companhia, guarda ou produção», pelo que é necessário estabelecerem-se «medidas de proteção dos animais em caso de incêndio».

A «compaixão pelos animais» deve ser tida em consideração para uma atuação segura e eficaz. «Os animais fazem parte da nossa população», afirmou Ana Silva, que ressaltou que estes devem receber os cuidados necessários para se protegerem em situações de catástrofe.

O plano é dividido em dois grupos – animais de companhia e animais de produção.

No que respeita ao primeiro, animais de companhia, estes devem ter um kit de emergência para o caso de incêndio e os animais devem estar identificados para facilitar o resgate e a sua devolução aos respetivos donos. Ana Silva salientou que «em situações de fogo, gera-se grande stress  nos animais, porque têm tendência para se esconderem, daí que seja importante, previamente, observar o comportamento do seu animal em situações de stress para saber onde é o seu esconderijo e ser mais fácil encontrá-lo».

A identificação com recurso a um selo sobre existência de animais de companhia em casa é outra  medida que deve ser posta em prática, para que as «equipas de salvamento fiquem a saber que foram resgatados todos os elementos vivos daquela habitação».

O alerta que fica é «se tiver que sair de casa, leve o seu animal, pois não sabe se vai conseguir regressar em tempo útil para o resgatar». Caso fique em casa, a medida de segurança é manter os animais dentro da habitação e fechar todas as portas e janelas pelas quais o animal possa sair.

Quanto aos animais de produção, os cuidados a ter passam pela limpeza e higienização dos locais onde estes se encontram e da delineação de uma faixa de gestão de combustível em torno do local. Manter as entradas livres e evitar a existência de maquinaria ou material inflamável perto dos locais onde estes se encontram.

Os aspersores de água no teto, segundo Ana Silva, «são uma boa opção», porque permite evitar a aproximação do incêndio, bem como se consegue diminuir a temperatura do local. A existência de fornecimento de água junto à exploração, através de sistemas alternativos de abastecimento, deve ser considerada, uma vez que em situação de incêndio é frequente a falta de água na rede pública e o corte do fornecimento de electricidade. Recorda-se que no caso de uma exploração pecuária ter dimensão industrial, esta faixa terá de ter a largura mínima de 100 metros.

Ana Silva terminou com o alerta de que, quando resgatados, é necessário ter em consideração ferimentos como inalação de fumo, golpe de calor e queimaduras, sintomas como tosse, respiração rápida, olhos vermelhos e possibilidade de vómito podem ser sinais de perigo para a saúde do animal.

 

Meios de resposta?

O Algarve tem-se preparado ao longo dos tempos para diversos tipos de catástrofe, desde incêndios florestais, a acidentes no aeroporto e sismos. A prevenção, através de simulacros, cursos, exercícios de treino para testar os acontecimentos em diversos cenários possíveis, têm sido apostas por parte das forças de socorro e salvamento do distrito.

Carlos Raposo, Responsável Operacional do Algarve do INEM, afirma que o «enquadramento do plano de catástrofes permite  pôr ordem no caos», sendo que é importante prevenir, simular e «treinar muito» para que os planos possam funcionar.

«Temos que estar preparados» e este ano «o reforço do dispositivo de emergência médica preparado pelo INEM e pelos seus parceiros tem o objetivo de reforçar a capacidade de resposta a situações de acidente». No Algarve o reforço é de 38 meios durante os meses de julho, agosto e setembro para fazer frente a eventuais fenómenos que ocorram durante o verão.

Paulo Moleiro, Adjunto do Comando dos Bombeiros de Portimão, reforça que «a preparação é a chave efetiva» para o sucesso na gestão de uma catástrofe. «Quando as coisas acontecem temos que estar em piloto automático».

«O cidadão é o primeiro agente de proteção civil» esta é a ideia que se pretendeu transmitir neste seminário, em que estar informado, saber comunicar e agir antes, durante e depois das situações de catástrofe podem ser a chave para atuações seguras e diminuição dos riscos.

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