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Cusco e Puno

De Nazca rumei a Cusco, numa viagem de autocarro que deveria demorar doze horas, mas que demorou dezoito, sem que conseguisse chegar à cidade já que os acessos estavam cortados a uns doze quilómetros por haver uma manifestação de professores, que andam em luta há uma série de semanas.

Deixei o autocarro e por ter sido o último passageiro a entrar deixaram-me tirar a mochila, que estava em cima das outras, seguindo a pé alguns quilómetros até apanhar novo transporte para a cidade.

Visitei Cusco num dia e destinei os outros dois dias seguintes a visitar o Vale Sagrado, percorrendo no primeiro dia quarenta quilómetros, praticamente sempre acima dos três mil e quinhentos metros de altitude e no segundo dia, trinta quilómetros, estes acima dos três mil metros de altitude. O segundo dia foi bem mais interessante pois foi passado sempre fora de estrada, seguindo um caminho utilizado por quem anda a cavalo, também por quem faz downhill.

Por estes dias celebravam-se na cidade as festas do seu patrono, São Tiago, e pude apreciar uma procissão que me deixou maravilhado. O andor em vez de seguir a direito na rua, seguia aos ziguezagues comandado por um dos elementos do grupo que como que empurrava os outros que o transportavam, sempre ao som de uma fanfarra super enérgica.

De Cusco segui para Puno, cidade a beira do Lago Titicaca, o lago navegável a maior altitude do mundo, a três mil oitocentos e dez metros de acima do nível do mar.

No lago existem uma série de ilhas, sendo as mais próximas as Ilhas Uros, as que eu visitei. Nestas peculiares ilhas flutuantes que remontam a civilizações pré-incas, utilizam a torora, uma planta aquática para fazer praticamente tudo. A própria ilha é feita desta planta. Apesar de muito interessantes estão profundamente viradas para o turismo o que lhes faz perder a genuinidade.

Visitei as Ilhas Uros na parte da manhã e à tarde decidi subir um monte nos arredores da cidade. Vi-me forçado a deixar o caminho que tinha avistado e seguir por uma série de trilhos para fugir a uns cães ferozes.

Já no topo, a mais de quatro mil metros de altitude, deparei-me com vários grupos de pessoas a celebrarem rituais que passavam por acender uma fogueira no que penso serem fezes de animal, na qual colocavam doces e atiravam bebidas como refrigerantes e cerveja para as chamas.

Falei com algumas destas pessoas já depois do cerimonial que muito amavelmente me explicaram o seu significado: ir buscar energias à Pacha Mama, a Terra Mãe, num cerimonial familiar que mistura o pagão com o religioso.

Em toda a zona em volta da cruz podiam-se vislumbrar inúmeros vestígios destes rituais e de outros que utilizavam pedras, em tudo semelhantes aos que muita gente tem vindo a erigir em locais como na Fóia, sem que tenham qualquer significado para quem o faz.

No regresso segui por outro caminho tentando evitar os cães que me perseguiram quando subia, mas outra matilha destes “amigos” de quatro patas seguiu no meu encalce.

A única solução foi enfrentá-los com o que tinha à mão e que neste caso foram pedras. Felizmente vinham todos da mesma direção e não me conseguiram rodear, sendo que o que mais se aproximou levou uma valente pedrada ficando os outros mais hesitantes, permitindo-me seguir caminho sem nunca baixar a guarda.

Por estes dias no Peru comemoravam-se as Fiestas Patrias que celebram a independência de Espanha. Neste feriado duplo tudo está enfeitado com as cores e bandeiras nacionais e ouvem-se foguetes a toda a hora.

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