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António Sousa Macedo, engenheiro florestal e coordenador geral do Programa Limpa e Aduba: “As perceções que a sociedade tem sobre a cultura do eucalipto são muitas vezes (…) não fundamentadas”

Jornal de Monchique – No que consiste o Programa Limpa e Aduba?
António Sousa Macedo
– O Programa Limpa e Aduba (PLA) contribui para contrariar o abandono da floresta, reduzir o risco de incêndio, promover o aumento da produtividade e o rendimento dos proprietários e produtores florestais. É um programa de apoio à gestão, certificação e manutenção florestal, destinado aos produtores de eucalipto, dirigido sobretudo a regiões de minifúndio e onde existem condições adequadas de solo e clima para cultura do eucalipto.
O apoio consiste na oferta de adubo e apoio financeiro do serviço de adubação, cabendo aos produtores florestais efetuarem o controlo dos matos e, se aplicável, a seleção de varas, previamente à adubação.
Desta forma, os principais objetivos do PLA consistem em apoiar a adoção de boas práticas de gestão florestal nos eucaliptais, concretamente ao nível do controlo dos matos dentro da floresta (limpa) e na adubação florestal (aduba). Assim, pretende-se reduzir o risco de incêndio e, simultaneamente, contribuir para o aumento da produtividade florestal. Este programa tem também uma componente muito importante de apoio técnico aos proprietários, divulgando boas práticas florestais. Outro objetivo do PLA passa pelo fomento da certificação florestal, dando prioridade às áreas certificadas ou em processo de certificação, cujos proprietários também têm a possibilidade de beneficiar de mais área apoiada em cada campanha do PLA.

JM – Quais as entidades parceiras no concelho de Monchique do PLA?
ASM –
Existem vários parceiros com atuação no concelho de Monchique, no entanto, os produtores florestais interessados em candidatar-se ao PLA deverão contactar o coordenador regional, António Bettencourt através do telemóvel 939 165 545, que indicará os parceiros disponíveis na região e que também poderá prestar esclarecimentos sobre o programa.

JM– Como os proprietários devem candidatar-se? Quais as datas em que decorrem essas candidaturas?
ASM –
Todos os proprietários, produtores, gestores ou arrendatários de povoamentos de eucalipto (exceto as áreas sob gestão da indústria) podem candidatar-se ao PLA. As candidaturas são feitas através da rede de parceiros locais, podendo o coordenador regional do PLA ajudar na sua localização.
O prazo para formalização das candidaturas para adubação na primavera de 2023 termina a 30 de novembro de 2022.

JM – A Celpa beneficia deste PLA? Em que medida?
ASM –
A CELPA é uma associação de empresas de base florestal e, enquanto entidade dinamizadora e financiadora única do PLA, criou este programa com os objetivos de apoiar a gestão florestal e assim contribuir para uma floresta de eucalipto melhor gerida, mais resiliente aos incêndios, e mais produtiva. Desta forma, as empresas associadas da CELPA pretendem contribuir para a sustentabilidade da produção nacional de madeira, criando mais valor e volume de negócios no mercado nacional, e reduzindo a necessidade de importação de madeira de outros países.
Acreditamos que este programa é importante, porque também é vantajoso para os produtores florestais os quais recebem um apoio à gestão dos seus povoamentos, através da oferta de adubo e de um apoio financeiro ao serviço de adubação, tendo assim menores custos e maior produção de madeira e consequentemente mais rendimento.

JM – Após o concedimento do apoio há algum tipo de supervisão dos trabalhos efetuados pelos proprietários?
ASM –
O apoio técnico (com recurso às boas práticas florestais) aos beneficiários do PLA e à rede de parceiros locais é uma das principais preocupações deste programa, pois importa que as operações de limpeza e de adubação sejam efetuadas de forma tecnicamente adequada para que sejam eficientes, tenham menores custos e produzam os melhores resultados. Nesse sentido, a equipa do PLA promove, com regularidade, sessões de informação para divulgação de boas práticas associadas às técnicas de controlo dos matos, seleção de rebentos e da adubação e, dentro da disponibilidade possível, acompanhamento dos trabalhos no terreno. A equipa do PLA está também disponível para esclarecer dúvidas e para visitas técnicas ao terreno com os parceiros e proprietários interessados.

Mapa do Programa

JM – As visitas de um técnico florestal da CELPA têm algum custo adicional?
ASM –
As visitas do técnico da CELPA não têm nenhum custo adicional. O único custo que recai sobre os aderentes ao PLA consiste na limpeza (gestão de combustível) e seleção de varas, sempre que necessário. Importa também referir que não existe nenhum compromisso ou contrapartida futura sobre a venda da madeira, estando o proprietário livre de a vender em mercado a quem o entender.

JM – Por quanto tempo beneficiam os proprietários do PLA? Após esse momento terão de fazer nova candidatura ou o programa termina?
ASM –
De forma geral, na região Sul Litoral cada parcela apenas pode beneficiar do PLA uma vez. Assim, o envolvimento no PLA dos produtores florestais aderentes decorre apenas desde o momento em que fazem a sua candidatura, até à adubação das parcelas, que na região Sul Litoral decorre sobretudo entre fevereiro e março. Ainda que em algumas situações, tecnicamente fundamentadas, a CELPA poderá propor aos proprietários a segunda adubação das parcelas que já tenham recebido adubo.
Contudo, o PLA é um programa plurianual e, portanto, os produtores podem beneficiar do programa em várias campanhas, podendo candidatar novas áreas para adubação.

JM – Qual a relação deste programa com outros existentes de reordenamento do território que estão a decorrer deste o incêndio de 2018, em Monchique?
ASM –
Não existe uma relação direta entre o Programa Limpa e Aduba com os programas governamentais atualmente em vigor em Monchique, ainda que ambos tenham como um dos principais objetivos a redução do risco de incêndio e a criação de territórios mais resilientes. O PLA é um programa técnico de apoio à gestão florestal, de áreas que já se encontram atualmente com eucalipto, enquanto os programas de gestão da paisagem são essencialmente programas de ordenamento do território e de política florestal. No entanto, os proprietários poderão beneficiar da complementaridade deste programa com outros instrumentos de ordenamento do território, sempre no sentido de uma gestão ativa e profissional da floresta.

JM – Quando é que o PLA teve início?
ASM –
O PLA começou no outono de 2018, tendo a sua primeira campanha de adubação na primavera de 2019. Atualmente, a nível nacional, conta já com quatro campanhas onde foram intervencionados e adubados 47676ha, beneficiando 5520 produtores florestais em cerca de 24 mil parcelas, sobretudo em áreas de minifúndio.

JM – O PLA apoia novas plantações de eucaliptos?
ASM –
Não. Este apoio destina-se apenas à gestão e manutenção florestal de eucaliptais já instalados com idade entre 1 a 6 anos após plantação ou após corte.

JM – Que comentário faz às opiniões existentes sobre as desvantagens do cultivo do eucalipto tanto na rápida propagação de incêndios, como no elevado consumo de água, atendendo à atual crise hídrica?
ASM –
Infelizmente as perceções que a sociedade tem sobre a cultura do eucalipto são muitas vezes, tecnicamente, não fundamentadas. O conhecimento existente, a investigação científica e a experiência dos técnicos florestais que trabalham no campo comprovam-no. A problemática dos fogos e da conservação do solo e da água na cultura do eucalipto, como em qualquer outra cultura, relaciona-se sobretudo com práticas culturais que dependem dos gestores e proprietários florestais. O abandono florestal é crescente, pelo que, acreditamos que o PLA é um programa importante já que promove a gestão florestal sustentável com recurso às boas práticas florestais.

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