Retrospetiva 2022
O ano 2022 está a chegar ao fim e, tal como nos vem habituando, a Porto Editora pôs a votação as palavras que o caracterizam. São elas: abusos, ciberataque, energia, guerra, inflação, juros, nuclear, rainha, seca e urgências. Depois disto, ainda bem que este ano está a acabar e esperemos que 2023 traga, ao menos, palavras melhores para o definir…
De uma forma simples vamos tentar fazer um périplo pelo que aconteceu em 2022, no panorama internacional, nacional e também no local.
Para começar por um tema mais leve, apresentamos que uma das músicas mais ouvidas no Spotify ao longo do ano foi “watermelon sugar” [tradução livre: açúcar de melancia] do Harry Styles. Após isto, continuamos no online, mas noutro estilo bem mais gravoso. Logo no início de janeiro e ainda sem recuperar da passagem de ano, o grupo Impresa foi alvo do 1.º ciberataque do ano. Já no panorama analógico, a chancelar alemã, Angela Merkel, que estava no poder desde 2005, abandonou o cargo a favor de Olaf Scholz. Mais ao centro e novamente noutro estilo e contexto, a 10 de janeiro, foi realizado o primeiro transplante de coração com sucesso de um porco para um humano. A Europa discute uma política de fechar portas aos refugiados. Em Portugal, António Costa conseguiu uma maioria absoluta, mas mesmo assim os portugueses viraram um pouco à direita populista, já que o partido CHEGA conseguiu eleger 12 deputados para a Assembleia da República.
Fevereiro, que costuma ser um mês carnavalesco, frio e mais pequeno que todos os outros, em 2022 teve como denominador comum a palavra ataque. Foram vários os que foram levados a efeito e um, pelo menos, foi impedido pela Polícia Judiciária. Tratou-se de uma “ação terrorista” que foi planeada para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Neste mês foi a rede de telecomunicações da Vodafone que foi alvo de ciberataque. No dia 24 de fevereiro, que ficará para sempre na história, a Rússia invadiu a Ucrânia. O ataque foi executado por três frentes, argumentando Putin, que “ a Ucrânia não deveria existir como nação”. Este bárbaro acontecimento influenciou tudo ou quase tudo o que se passou ao longo do ano. Até a Assembleia Municipal de Monchique e o executivo municipal aprovaram uma declaração pública sobre invasão da Ucrânia e a EDP é ainda ilibada do incêndio de 2018 em Monchique.
Valeu-nos o término da “situação de calamidade” que vigorava em todo o território nacional continental devido à pandemia de covid-19. Isso veio abrir a dinamização de eventos, proporcionando o regresso à região da Volta ao Algarve com os melhores do mundo. Em Monchique, apela-se à poupança de água.
Março, mês da Feira dos Enchidos, que este ano chegou via online, e do carnaval, já que o mês de fevereiro foi te tal formal explosivo que não se aguentava com mais profanações em apenas 28 dias. Poderia ser que com a entrada na quaresma, e com todo o recato que se impõe até à Páscoa, o mundo ficasse mais calmo. Só que não.
Os refugiados da guerra invadem o espaço europeu. Ucranianos de todas as maneiras possíveis deslocam-se de suas casas, para outros locais do seu país ou para países vizinhos, como a Polónia e a Roménia, no imediato, ou até para Portugal, que é o território mais distante, para ocidente, do conflito. A Europa estremece com a ameaça nuclear, unifica-se e impõe sanções à Rússia. Já para o oriente as Coreias continuam em disputa e, para além de entrar na Coreia do Sul um novo partido, ainda propõe que é uma necessidade possuir armas nucleares como forma de dissuadir a Coreia do Norte. Dá-se uma corrida ao armamento e aos sucessivos apoios bélicos à Ucrânia. A NATO não entra diretamente no conflito, mas fornece armas para que a Ucrânia se possa defender.
O tema da ordem do dia é este. Até o Dia Internacional da Mulher no concelho de Monchique inspira-se no ODS n.º 5 da ONU: e promove recolha de bens para mulheres ucranianas. Para além disso, começa-se a falar da prevenção de incêndios, sendo que as Freguesias de Monchique são incluídas numa lista prioritária de prevenção. O mesmo se aplica ao Programa de Reordenamento e Gestão da Paisagem das Serras de Monchique e Silves. E, se no mês passado, foi a câmara de Monchique que apelava à poupadora de água, é, agora, a AMAL que estabelece medidas de combate à seca.
E eis que chega a Páscoa e o mês de abril, que pressupõe renascer, reflorescer, recomeçar. Dá-se, então, a 1.ª consolidação da Ucrânia contra a invasão russa, recuperando a capital, Kiev. França vai a eleições e Macron, que tinha assumido o papel de mediador da guerra na Europa, vai a sufrágio contra Marine Le Pen e, numas eleições bastante renhidas, ganha. Nós por cá, nada de novo. Mais um ciberataque. Desta vez foram os sistemas informáticos do Hospital Garcia de Orta, em Almada, com os hackers a exigir o pagamento de um resgate financeiro em bitcoin. Morreu ainda a atriz Eunice Muñoz e a TAP regista um prejuízo recorde de 1,6 mil milhões de euros em 2021. Nesta altura, ao menos respira-se melhor, Portugal deixa de usar máscara. Por Monchique, visitámos o Centro Karuna; vieram cá 500 atletas para praticar trail; a Serra de Monchique vence o Prémio Cinco Estrelas Regiões 2022 e a Central Fotovoltaica de Morgado de Arge começou a funcionar.
Maio traz de volta a normalidade na agenda de eventos do Algarve, contudo surge a monkeypox, que ainda não saídos, por completo, da pandemia de covid-19, se começa a contar os casos desta nova praga. Não se sabe ao certo o que é, nem de onde surgiu, nem como se transmite, mas o mundo dá um estremeção quando ouve falar de uma nova pandemia a chegar. Felizmente, e com o devido distanciamento, parece que perdeu a força.
Entretanto, e talvez porque o verão se aproxima, cria-se um novo passe turístico que permite viajar por todo o Algarve de autocarro, os incêndios entram na ordem do dia, o DECIR do Algarve é ajustado à evolução da perigosidade e os Bombeiros de Monchique recebem novo Veículo Urbano de Combate a Incêndios. Além deste novo recurso, António Justino, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Monchique afirma ainda que “A associação tem, neste momento, a situação financeira equilibrada. Surgiu também neste mês o evento “Vamos à Vila”, realizado pela 1.ª vez, que trouxe às ruas de Monchique movimento, pessoas e a exposição de muitos produtores locais. Em jeito também de valorização, as Infraestruturas de Portugal outorgaram o contrato para a eletrificação do ramal ferroviário de Lagos. No topo da Europa, Finlândia e Suécia oficializam o pedido de entrada na NATO.
E, sem darmos conta, chegámos a meio do ano. Com o mês de junho retomam os santos populares em Lisboa e o Rock in Rio. Despenaliza-se a eutanásia no parlamento, um tema que parece ter apenas consenso nalguns partidos e na assembleia da república e voltará a ser discutido e aprovado seis meses depois. Por Monchique, fazem-se arraiais no quintal da Junta de Freguesia, o 1.º torneio de petanca para crianças e jovens realiza-se no espaço da antiga Serração, abrem as piscinas exteriores municipais que, atendendo à seca, são das únicas que se mantêm em funcionamento no Algarve, adia-se o Festival de Caminhadas, por causas do calor e do aviso emitido pelo IPMA. Falámos ainda com Patrícia Francisco, diretora do Agrupamento de Escolas de Monchique e o projeto Renature cria exposição sobre a serra de Monchique.
Internacionalmente, batem-se recordes de refugiados ucranianos. A Europa que logo no início do ano tentava restringir a entrada de migrantes, recebe agora famílias vindas da Ucrânia, desbloqueando, de certa forma, a circulação de pessoas. O que foi também desbloqueado no mês de julho, sob a mediação da Turquia, foram os cereais ucranianos, que a Rússia teimava em reter. Foi assim criado um pequeno corredor para a exportação. Na política, Luís Montenegro assume a liderança do PSD no 40.º Congresso Nacional e Boris Johnson renuncia a ser primeiro-ministro do Reino Unido devido aos escândalos no seu governo. Os grandes incêndios não dão tréguas à zona norte e centro do país. É imposta a proibição de circulação de pessoas nas florestas em dias de risco máximo de incêndio, mas os operadores florestais propõem medidas para fazer face a isso. Falámos com Aura Fraga, presidente da Associação Vicentina e anunciámos que a campanha arqueológica do Alferce iria começar.
Em agosto, perdeu-se o medo da covid-19 e também se perdeu Marta Temido, que se demitiu. O Algarve tem mais de 200 eventos para realizar e deixa de ser obrigatório o uso da máscara nos transportes públicos, incluindo aviões. A Serra da Estrela ficou com menos 10% do seu parque natural devido a incêndios e morre Mikhail Gorbatchov, grande responsável da Perestroika e prémio Nobel da Paz. Também se ganharam coisas, apesar de poderem não ser encaradas como positivas. Então… aumentou a tensão entre China e Taiwan, com a China a fazer exercícios militares em torno da ilha de Taiwan, para além disso, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, visitou a ilha sendo entendido como uma provocação dos Estados Unidos da América à China e desde janeiro até ao final deste mês foram aumentando as denúncias de abusos sexuais na igreja, que se situam nas 400, em Portugal.
Localmente, os Bombeiros Voluntário de Monchique aumentaram a sua frota com a entrega de uma nova ambulância pela Água Monchique, a Câmara Municipal adquiriu uma viatura para o setor das obras, foi reforçado o pessoal não docente do Agrupamento de Escolas de Monchique, o bolo de tacho esteve em destaque na Feira da Dieta Mediterrânica, falámos com a artista Meire Gomes e visitámos as escavações do Castelo do Alferce.
O Reino Unido dominou nas televisões e na atualidade no mês de setembro. Logo no dia 5, Liz Truss sucede a Boris Johnson como primeira-ministra, mas apenas três dias depois, dia 8, morre a rainha Isabel II e dois dias depois o seu filho, Carlos III, é proclamado rei. Numa transmissão televisiva exaustiva, fomos levados quase numa viagem no tempo até 19 de setembro, dia que se realizou o enterro da monarca, que foi acompanhado por 4,1 mil milhões de pessoas em todo o mundo, tornando-se o evento televisivo mais assistido de sempre. Nos breves momentos de intervalo de tudo o que teve a ver com a rainha, noticiou-se o início das grandes manifestações no Irão, que a inflação subiu em Portugal para 9,3% ou que todos os arguidos dos fogos de Pedrógão Grande foram absolvidos. Por Monchique, o regresso no final do mês do Banho do 29 juntou centenas de pessoas na Praia do Vau. Fomos desmistificar os segredos da spirulina e falámos com elementos da comunidade “Agulhas Marafadas”. A rota do petisco aguçou o apetite dos seus fãs em nove estabelecimentos de Monchique e em muitos outros por todo o Algarve, assim como a Artechique trouxe até ao Largo dos Chorões artesanato aliado à agricultura e aos comes e bebes. Nas escolas do Algarve as ementas passaram a incluir produtos regionais e Paulo Rosa lançou o livro “Um tributo a Monchique”.
Já no outono, e em outubro, ficámos mais ricos em 125 euros atribuídos pelo Governo de António Costa para compensar a inflação e/ou o aumento dos juros, etc. Já Liz Truss volta a ser notícia 45 dias depois de ter assumido o cargo de primeira-ministra, mas desta vez porque renunciou ao mandato, tornando-se o mais curto da história britânica. Sucede-lhe Rishi Sunak. Com a chegada do tempo mais frio e dos sucessivos avanços das tropas ucranianas em várias cidades, a Rússia passa a atingir também alvos civis, deixando a população sem luz e energia. O Brasil vai à segunda volta das presidenciais e, por uma margem muito curta, Lula vence Bolsonaro. Localmente, a Estação de Radar n.º 1, na Foia, que comemorou recentemente o seu aniversário permitiu uma entrevista ao comandante Major Joaquim Monteiro, no cargo há cerca de um ano, o qual afirma que : “É este o nosso dia-a-dia, desafiante”. Desafiante, também foi o Rallye Casinos do Algarve que trouxe o piloto Miguel Oliveira ao Algarve para se estrear na competição automóvel. A organização aproveitou ainda para doar as taxas de inscrição aos Bombeiros de Monchique. A adrenalina continuou sobre as quatro rodas através do regresso do Passeio TT Rota da Castanha, bem como o cheiro das castanhas pelos tradicionais magustos realizados nas três freguesias. Entretanto, já começaram as obras para o Centro de Meios Aéreos, no Semedeiro, e as candidaturas às bolsas de estudo para o ensino superior. Novembro é também musical com o II Festival de Harpa e pelos anúncios do festival de música de câmara VilaNova e de mais de um mês de atividades no Monchique Natal para dezembro. O Lagar dos Pardeiros esteve em destaque e o Turismo do Algarve promoveu uma aventura em Monchique para turistas internacionais. A frota municipal foi renovada com mais três veículos. A precisar, igualmente, de renovação urgente está o clima mundial, para isso reuniu no mês de Todos os Santos, talvez sejam apenas estes que nos podem ainda valer, a COP 27, no Egito, no qual ficou acordado a criação de um fundo para ajudar nações mais vulneráveis atingidas pelas alterações climáticas. Contudo, esta reunião esteve envolta em polémica, não por causas das ações que foram discutidas, mas por causa do país onde foi realizada. A par, decorreu o G20, que reuniu as maiores economias do planeta, na Indonésia. Foi o primeiro encontro de Biden com Xi-Jiping, mas Putin esteve ausente. Da China, chegam-nos manifestações contra a política “zero covid”, que implica longos confinamentos e testes em massa, coisa que seria difícil de impor ao record atingido de oito mil milhões de pessoas a habitar o planeta terra. Pelos lados da guerra, e ainda com dúvidas como aconteceu, caiu um míssil em terreno polaco, matando duas pessoas. De uma forma menos explosiva, mas também quase de surpresa surge Paulo Raimundo como sucessor de Jerónimo de Sousa no cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista Português. Como efeméride, comemora-se o centenário de José Saramago e como reportório para os humoristas surgem os discursos de algumas figuras públicas na WebSummit, à exceção da primeira dama ucraniana ter discursado, mas esse não deu lugar a piadas.
De repente, estamos em dezembro. Último mês do ano. A guerra continua, mas foi posta para segundo plano porque se joga futebol no Catar. Entre violações dos direitos humanos, restrições aos direitos das mulheres, a bola começou a rolar, os golos a entrar e nós acabámos por nos alhear da realidade que precedeu o mundial e dos telhados de vidro que existem por todo o lado sobre os mesmos assuntos. Prova que no melhor pano cai a nódoa foi o escândalo no Parlamento Europeu que levou à detenção de quatro pessoas, acusadas de pertença a organização criminosa, corrupção e branqueamento de capitais, relacionados com o mundial. No final, ganha a Argentina para que não haja mais surpresas e o Maradona dá sempre uma mãozinha, ainda por cima agora que está mais perto de Deus. O parlamento português aprova novamente a despenalização da eutanásia.
Em Monchique, o festival das caminhadas realiza-se, apesar de um pouco de chuva, mas nada comparado com as cheias que aconteceram em Lisboa ou em Faro, ou em tantos outros sítios… que na mesma medida que o São Pedro esteve atento às preces da falta de chuva, os homens esqueceram-se de limpar as sarjetas, que não se deve construir em cima de linhas de água, que os rios e as ribeiras sobem de caudal e que a água da chuva é preciosa e precisa de ser guardada como tesouro, antes que volte ao mar.
A par disto, a saúde está ligada às máquinas, faltam médicos, enfermeiros, auxiliares e demais profissionais, chove nos hospitais, a afluência é cada vez maior, porque esquecemo-nos da covid-19, mas estamos a ser brindados todas as semanas com novos vírus que não conhecemos o nome, mas que nos deitam por terra e nos conduzem desenfreadamente às urgências e ainda, para elevar o espírito, os professores fazem greve por tempo indeterminado, porque o estado da educação está a chegar um ponto de desorientação sem precedentes, afinal “professores a lutar também estão a ensinar”.
No fundo, faz-se a árvore de Natal, o presépio, tentam-se comprar algumas prendas, que têm a elas agregada a percentagem avultada da inflação e continuamos a viver, às vezes em guerra connosco próprios e com os outros. A deixar passar dia após após dia o tempo, que nos leva a energia quer seja ela física, elétrica ou até nuclear. Para esta última, foi feito um avanço histórico nos Estados Unidos em fusão nuclear, o que que pressupõe progressos na defesa e no futuro na energia limpa. Continuamos à espera de um dia melhor sem abusos, sem juros que após muitos anos, quase nos engolem mensalmente a casa que comprámos. Vamos olhando para o telemóvel, vivendo através das redes sociais, rezando para que não sejamos vítimas de uma burla ou de um ciberataque qualquer. Aguardamos, não querendo entrar muito a fundo nos problemas, porque as urgências estão cheias e a saúde mental, muito falada nos dias de hoje, também vai faltando. Mas, na mesma medida agarramo-nos à esperança, porque ela é rainha e terá sempre de ser aquela que nos conduz até a um novo ano, a uma nova perspetiva, a um novo começo. Feliz 2023!