Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve: “Eu comparo um bocadinho este projeto com os escuteiros, só que da música”
Há mais de 20 anos que crianças e jovens aprendem guitarra no pólo de formação de Monchique da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve, um projeto a nível regional “pensado nos jovens que não têm a oportunidade de aceder aos centros urbanos e ir para um conservatório”. Sofia Luís, com 29 anos e natural de Portimão, é a formadora no pólo desde 2016. Também ela se iniciou na música nesta Orquesta, tendo depois estudado na Escola Superior de Música de Lisboa e tirado o mestrado em Ensino de Música, no Instituto Piaget, em Almada. O grupo de guitarras de Monchique vai atuar no certame “Vamos à Vila”, com um programa que inclui “desde músicas que costumam dar na rádio a músicas mais eruditas e temas de música tradicional”.
Jornal de Monchique-Desde quando é que existe o pólo de formação em Monchique?
Sofia Luís – Este pólo começou com o professor Gonçalo Duarte e penso que é um dos primeiros polos a ter sido criado, porque a Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve já foi fundada em 2001 [como depois se veio a confirmar, o pólo de Monchique foi criado, de facto, em 2001]. A Orquestra é um projeto a nível regional, que faz parte da Associação de Guitarras do Algarve. Eu comecei no Pólo de Monchique em 2016.
JM-Tem havido adesão dos jovens?
SL-Bastante, até temos vários jovens em lista de espera. De momento, temos 22 jovens divididos por três classes diferentes. Temos a classe C, que é a classe de iniciação, a classe B, que é a classe intermédia, e a classe A, que é a classe avançada. Por acaso, no ano passado tínhamos por volta de 30, mas houve algumas desistências, porque alguns alunos vão para a universidade e tudo mais. Mas costumamos ter sempre um pólo cheio.
JM-Qual é o limite de idade para a inscrição?
SL-Normalmente, costuma ser entre os 6 e 7 anos até aos 18 anos. Às vezes, com 6 anos eles são muito pequeninos e ainda não conseguem tocar bem a guitarra. Tudo depende da altura deles e também da parte cognitiva.
JM-Que ensinamentos é que a Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve proporciona aos seus alunos?
SL-Isto é um projeto a nível regional, temos vários pólos ao longo do Algarve. No concelho de Monchique, temos dois, o pólo de Monchique e também o de Marmelete. A ideia é promover a cultura musical a nível regional, sendo que o projeto é pensado nos jovens que não têm a oportunidade de aceder aos centros urbanos e de ir para um conservatório, que promove todas as disciplinas a nível musical. Para que eles tenham, pelo menos, um bocadinho de música. É uma hora por semana de guitarra, em grupo, e só têm a componente prática, enquanto no conservatório, normalmente, eles têm a parte teórica. No fundo, é um passatempo. Também têm alguma oportunidade de ter contacto com a música e com o instrumento, neste caso a guitarra. Nós temos diversas guitarras. Eles tocam guitarra clássica na maioria, mas depois também temos instrumentos de orquestra, que também fazem parte da família das guitarras clássicas. Um contrabaixo, por exemplo, que é um instrumento maior e tem um som mais grave. E temos também os altos e os sopranos, que são mais pequeninos e têm um som mais agudo. A forma de tocar é a mesma que a guitarra clássica, mas o timbre, ou seja, o som que sai daquele instrumento é diferente e os meninos também ficam mais entusiasmados, porque não tocam só a guitarra em si.
JM-Que géneros musicais tocam nas aulas?
SL-Nós temos diversos géneros. Vão desde músicas de filmes e séries à música portuguesa. Também vamos à música clássica, erudita, ou de bandas. Tentamos diversificar, também para eles conhecerem um bocadinho de tudo.
JM-A Associação organiza encontros de guitarra com frequência?
SL-Cada uma das classes tem uma hora por semana dentro do pólo, mas depois organizamos concertos e encontros com todos os pólos que nós temos a nível regional. E nesses encontros, normalmente, passam o fim de semana connosco. Ficam a dormir e tudo. Têm diversas atividades com animadores e, por outro lado, temos também os ensaios, porque, no final do encontro, fazemos sempre um concerto para apresentar. E também temos tido intercâmbios para além destes encontros, mais ou menos de três em três anos. Por exemplo, no ano passado fomos a Córdoba. E foi muito giro, porque nos encontrámos com uma outra orquestra de guitarras. Já fizemos na Alemanha, em Itália e em França. Mas os intercâmbios é só com a classe A, que é a classe mais avançada.
JM-Em que é que o contacto com a música, e com a guitarra em específico, beneficia os mais novos?
SL-No fundo, na minha opinião, eles têm a possibilidade de tocar músicas que gostam e depois acaba também por haver uma maior motivação por serem aulas em grupo. Tocam com os colegas, ou seja, cada um toca a sua voz e depois juntamos todos a música em si. Esta voz chama-se naipe. E depois aprendem também a ler partituras e a tocar um instrumento novo. Eu comparo um bocadinho este projeto com os escuteiros, só que da música.
Fotos: https://aguitarraalgarve.pt/orquestra-juvenil-de-guitarras-do-algarve/
Entrevista publicada na edição n.º 486, de 31 de maio de 2024