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Monchique celebra Dia da Europa com seminário, arte e skates

A vila de Monchique foi palco das últimas comemorações inseridas no Dia da Europa. O município, em conjunto com os diversos parceiros desta iniciativa, realizou atividades relacionadas com a temática “De que é feita a paz?”, tendo estas decorrido ao longo do dia 10 de maio.

A primeira e principal iniciativa foi a realização do seminário com o mesmo tema, que teve lugar no auditório do Agrupamento de Escolas de Monchique (AEM), pelas 9h30.

A sessão de abertura desta atividade contou com um vídeo institucional da embaixada da Ucrânia em Portugal, no qual a diplomata Inna Ohnivets mencionou a agressão russa a que seu país tem estado sujeito, a paz e os valores europeus e a vontade forte dos ucranianos e ucranianas em aderirem à União Europeia. O presidente da CCDR Algarve, José Apolinário, foi o primeiro participante a discursar para a plateia, composta maioritariamente por alunos do 9º ano de escolaridade do AEM. O dirigente interpelou a plateia, perguntando “o que é ser membro da União Europeia?”, para depois referir valores inerentes à vivência dos europeus, como a paz e as “liberdades de circulação, estabelecimento e criação de empresas”. Apolinário também referiu o conflito entre Ucrânia e Rússia como um exemplo de que os valores europeus são desejados pelos que estão fora desta organização. O presidente da entidade apresentou alguns exemplos próximos dos jovens assistentes apoiados por fundos comunitários, como a água de Monchique ou a futura requalificação do estabelecimento educacional onde este seminário teve lugar, tendo concluindo que “espero que, ao longo deste dia, possam discutir a paz”.

De seguida, a palavra pertenceu ao presidente da Câmara Municipal de Monchique, Paulo Alves, que, prontamente, agradeceu à embaixadora da Ucrânia pela sua mensagem e condenou a agressão russa para com esta nação. Durante a sua intervenção, o edil afirmou-se como “europeísta convicto”, acrescentando que não é por ser europeu que deixa de ser português, algarvio ou monchiquense. Assim como os oradores anteriores, Alves referiu que “a paz tem sido um dos alicerces da Europa”, uma paz que, segundo este, tem sido perturbada por eventos como o conflito previamente mencionado ou o Brexit. Sobre este último, o presidente da câmara algarvia aproveitou para tomá-lo como um exemplo para os mais jovens, que acham a política não é para eles, do que acontece quando se “deixa os votos nas mãos dos outros”, assim sublinhando o peso e a importância da votação numa democracia europeia.

A representante do AEM, Patrícia Francisco, foi mais célere no seu discurso, mas mostrou-se igualmente satisfeita pela realização desta atividade, afirmando que “queremos formar os nossos jovens para o amanhã”.

Após a sessão de abertura, o primeiro painel de convidados assumiu o protagonismo numa videoconferência moderada pela representante do Centro de Informação Europeia Jacques Delors, Sandra Pereira. O primero interveniente foi Mostafa Zekri, professor no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (ISMAT), que partilhou a sua visão sobre a temática “Os Direitos Humanos e integração europeia” com os assistentes. O catedrático afirmou que, “como objetivo, os direitos humanos estão a tornar-se um ponto fulcral, particularmente na Europa” e que “a íntegração europeia é um modelo que pode servir de inspiração para outras partes do mundo”. Além disso, Zekri acredita que “a educação cívica e a educação para os direitos humanos estão englobadas no mesmo movimento” e que “reflexão, debates e saberes são exigidos para discutir os os valores dos direitos humanos”. Antes de concluir a sua intervenção, Zekri colocou a seguinte pergunta aos presentes: “por que não tornar os direitos humanos uma base para a educação?”.

A segunda e última reflexão deste painel foi elaborada pelos professores do ISMAT Susana Leonor e Américo Mateus, embora com uma duração menor do que a que estava prevista devido à falta de tempo. A intervenção foi feita quase totalmente por Mateus, que apresentou uma visão dentro do tema “O papel do design thinking na educação dos jovens”. O catedrático referiu que o design thinking ajuda a desenvolver a capacidade de “identificar os problemas e encontrar soluções para os mesmos”, valores que devem ser “incutidos nos jovens”. Comparativamente ao resto da Europa, Américo Mateus afirmou que “não estamos absolutamente fora da realidade europeia, mas temos muito trabalho a fazer em Portugal”. Além disso, este declarou que “temos também de fazer com que haja processos de colaboração entre políticos e cidadãos para a construção de uma Europa melhor no seu todo” e tal parte de uma “prática onde o cidadão é igual ao outro e em que, independentemente da sua faixa etária ou social, ele contribui para a evolução da sociedade”.

Terminada uma pequena pausa de 15 minutos, o segundo painel deu continuação ao seminário. O primeiro a falar para o público foi o presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) do Algarve, Custódio Moreno, que foi o moderador nesta parte da sessão. O responsável interpelou os jovens do 9ºano e afirmou que “a política não é feita para jovens, é feita com jovens. São vocês, com as vossas ideias, que têm de chegar ao pé de nós e dizer: ‘quero fazer isto!’”.  Posteriormente, Moreno introduziu Luís Costa, que, sendo um dos responsáveis pela rede MOVE, falou aos assistentes sobre “Projetos, programas e políticas para os jovens”. O palestrante aproveitou o seu tempo para apresentar programas e projetos internacionais de voluntariado que funcionam fora das escolas e universidades. Costa chegou ainda a realizar um pequeno brainstorm com o público baseado em fotos de ações de voluntariado do qual saíram palavras como partilha, religião, tribo, cultura ou amizade. O convidado terminou a sua intervenção afirmando que “isto é o que vocês podem ganhar com um projeto de voluntariado”.

Já João Carlos Silva falou sobre a sua experiência com o programa Erasmus, que se inseria no tema “A minha oportunidade na EU”. O convidado falou sobre os vários aspetos da sua ida para o estrangeiro, as diferenças culturais e amizades que formou durante os períodos em que esteve fora, chegando mesmo a dizer, em tom de brincadeira, que “fiquei com casas de férias na Europa e no mundo”. Custódio Moreno aproveitou o final da apresentação de João Silva para passar um vídeo que transmitiu o valor da iniciativa, com o dirigente a terminar com a mensagem “não esperem que aconteça, façam acontecer”.

O terceiro painel era o que tinha o maior número de convidados e cuja temática era “Voluntariado para a sustentabilidade social e ambiental”. Viriato Villas-Boas foi o primeiro interveniente, sendo que o fundador da Wallride Skate (organização sem fins lucrativos para divulgação da prática, cultura e comunidade do skate) aproveitou para falar sobre a sua associação, mas também de como é ir para fora do país, afirmando que, “às vezes, faz falta ir lá fora e ver o que pode ser feito cá dentro”. O criador deste projeto também revelou que “o skate tem criado comunidades coesas, tem sido importante para afastar as pessoas da marginalidade”, acrescentando que, “neste desporto, não há claques nem cores, há amor pelas pessoas” e salientando a importância do voluntariado para esta iniciativa. Villas-Boas terminou o seu discurso com um incentivo aos jovens para que estudem, dizendo que “estudar é uma seca, mas, se não fizerem isso, não vos darão aquele papelinho para a mão e não vos abrirão as portas, pelo que vocês terão de trabalhar para isso”.

De seguida, duas técnicas superiores da Câmara Municipal de Monchique também abordaram a importância do voluntariado aos níveis social e pessoal. Manuela Filipe mostrou um pequeno vídeo aos assistentes para lhes explicar o valor da iniciativa, afirmando que, “para mostrar vontade, temos de mostrar ação”. A profissional desta instituição, que atua na vertente social, também falou sobre a recompensa que se recebe com ações de voluntariando, considerando que “é interessante ver o vosso trabalho espelhado na vossa terra” e que “aquilo que vocês ganham é muito maior do que aquilo que vocês recebem em termos monetários”. Sónia Gil também incentivou os jovens para que realizem este tipo de atividades, compreendendo que, na visão dos alunos presentes, “vocês achem que, sem rendimentos, essa ação não seja tão boa, mas é boa”. A técnica municipal informou que “vocês poderão conhecer pessoas que ainda virão a ajudar-vos no futuro”, além de considerar que uma destas experiências “ensina-vos a trabalhar em equipa”.

Já a representante da Associação Vicentina neste painel, Sara Santos, aproveitou para explicar um pouco daquilo que esta entidade faz no âmbito social e dar exemplos de ações que se enquadravam na temática deste segmento.

Por sua vez, a representante da Associação Portuguesa do Ambiente e da sua Administração da Região Hidográfica do Algarve (APA –ARH Algarve), Paula Vaz, falou sobre o esgotamento dos recursos naturais no nosso planeta e sobre a forma como as nossas ações afetam o meio ambiente. A convidada também revelou alguns factos sobre esta problemática, informando que, “se todos no mundo fossem portugueses, precisaríamos de dois planetas e meio para termos recursos suficientes”, destacando igualmente a data de 7 de maio, o dia em que “esgotámos os recursos da terra”. Vaz aproveitou para lembrar o público presente de que “podemos contribuir fazendo coisas. Mais do que falar, é importante mudar”.

A sessão de encerramento ficou a cargo de três convidadas que deram o mote para a etapa seguinte das atividades inseridas no Dia da Europa. A vereadora da Câmara Municipal de Monchique, Helena Martiniano, dirigiu-se aos jovens sobre a importância de agir, confessando que “espero que isto vos tenha desassogado, que pensem sobre os assuntos e que ajam. Vocês são o futuro do mundo, de Portugal e de Monchique”. A autarca terminou a sua intervenção com uma citação de Robert Schuman, um dos fundadores da atual União Europeia.

A representante da Associação Vicentina, Sónia Felicidade, introduziu a artista Maria Prymachenko, cujas obras serviram de inspiração para a criação do percurso artístico pela vila de Monchique. A membra desta entidade explicou que Prymachenko “não fez mais do que o 4° ano de escolaridade, mas foi autodidata”, tendo vivido “da sua pintura”. Felicidade acrescentou que “tudo aquilo que ela pintou tinha que ver com a paz” e que a pintora foi um exemplo de que “nós podemos fazer arte sobre a comunidade, mas devemos fazer com a comunidade”.

A artista Joana Bandeira Rocha foi a última convidada a discursar para os presentes, aproveitando para mostrar a sua satisfação por ter feito parte desta iniciativa e para elogiar a obra de Maria Prymachenko.

Por volta do meio-dia, a comitiva que compunha este evento saiu da Escola Básica Manuel do Nascimento para percorrer as ruas da vila algarvia e inaugurar o percurso artístico inspirado na obra da artista ucraniana. O trajeto inclui passagens pelo largo Comendador José Joaquim Agoas, pelo largo da Misericórdia e pelo edifício Junta de Freguesia de Monchique, onde as caixas de eletricidade foram pintadas pelos alunos do 9º ano do AEM. Para terminar, os elementos que compuseram esta atividade alinharam-se para uma fotografia junto à última criação artística deste percurso: o mural no edifício da sala de estudo da Ludoteca da vila.

Já depois do almoço, os alunos da escola básica puderam reunir-se no campo de jogos da instituição e aproveitar para se iniciarem na arte do skate sob supervisão de Viriato Villas-Boas. O fundador da WallRide proporcionou algumas demonstrações nas pequenas rampas e restantes elementos utilizados nesta modalidade para os mais jovens poderem aprender como se faz.

Diogo Petreques

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