Elementos da comunidade “Agulhas Marafadas”: “isto é uma terapia, uma ioga mental”
Há cerca de sete anos, um grupo de pessoas decidiu criar uma comunidade dedicada à solidariedade. Desde então, as “Agulhas Marafadas” não pararam de confecionar peças para diferentes causas sociais. São Cruz e Deolinda Vicente, acompanhadas por Adília Serpa, contaram ao Jornal de Monchique os eventos de uma caminhada com base nas artes criativas.
Jornal de Monchique – Como é que surgiu a ideia para a criação da comunidade “Agulhas Marafadas”?
São Cruz – As “Agulhas Marafadas” surgiram de um grupo de senhoras que se encontravam para ensinar e para aprender, sendo uma troca de conhecimentos de tudo o que metesse agulhas, como costura, tricô, croché, macramé e outras artes criativas. Começou com encontros na casa Manuel Teixeira Gomes, com um intuito de chamar pessoas, ensinar e aprender mais.
Deolinda Vicente – Como havia muita gente que trabalhava, reuníamos mais aos sábados à tarde.
SC – Depois, a Casa Manuel Teixeira Gomes começou a fechar ao sábado e tivemos que procurar outro sítio. Aí começou o nosso périplo por vários locais, que fossem públicos, em que nos vissem. Muito desta nova onda do tricotar, do crochetar, vê-se que se espalhou por todo o mundo. Hoje, nas universidades, já se vê os miúdos a tricotarem nas aulas, rapazes ou raparigas, voltou quase que a ser uma moda. Fomos para vários cafés, pastelarias em Portimão, marcávamos aos sábados, às 15h00 e depois íamos definindo onde é que íamos ficar. Isto começou há seis ou sete anos.
DV – E mantemo-nos umas seis ou sete, que somos as “resistentes” e as “residentes”. Quem quiser vir é bem-vindo.
JM – Como é que uma pessoa pode integrar a comunidade?
SC – Pode vir qualquer pessoa que queira aprender ou ensinar, que venha com um projeto, pois trabalhamos muito em projetos de cariz social sem fins lucrativos. Nas redes sociais podem perguntar-nos onde estaremos no sábado e aparecer.
JM – As pessoas entram em contacto convosco através das redes sociais?
SC – Sim, mas também muito por um dizer a outros, que dizem por sua vez a outros.
JM – Existe alguma quota que os membros tenham de pagar?
DV – Não, isto é puro e simplesmente voluntário.
JM – Ou seja, é à base da solidariedade das pessoas?
SC – Sim, mas não da solidariedade em que alguém nos dá dinheiro. Podem nos dar lãs para os nossos projetos sociais, tecidos, mas dinheiro nunca. Há também muita gente que confeciona peças em casa e depois nos entrega.
JM – Qual é a missão da “Agulhas Marafadas”?
SC – Eu acho que a nossa missão parte de tirar as pessoas de casa. O espaço de troca de conhecimentos é também de cariz social, mas é muito o ensinar e o aprender com o que a gente faz para alguém. Lógico que com a pandemia as coisas mudaram, mas fizemos outras coisas. Por exemplo, temos o projeto dos xailes, das capas para o hospital e eu, como estou no hospital, deteto várias carências e puxo muito os projetos para essa parte. Infelizmente, a maior parte dos idosos, e não só, não leva roupa para o hospital, quase que são depositados, vestem uma camisa aberta à frente e pode estar frio. Há sempre lá um saco de xailes feitos por nós e por outras pessoas que estão em casa, mas que nos fazem chegar, assim como as botinhas de lã. Nós entregamos a essa pessoa e passa a ser seu. Estes dois projetos estão sempre a funcionar, e as pessoas têm conhecimento.
JM – No vosso Facebook está escrito que estão sediadas em Portimão. Contudo, foi-nos dito que não têm um sítio que possam considerar como vossa sede…
SC – Eu, apesar de ser de Monchique, vivo em Portimão e o “núcleo duro” desta comunidade é de Portimão. Apesar de nós podermos ir costurar para Aljezur, Quarteira ou Monchique, nós encontramo-nos em Portimão a maior parte das vezes. Vivemos lá todas, o depósito das coisas é lá. Recentemente estivemos aqui, no “Vamos à Vila”, já fizemos outros projetos na escola de Monchique também, em que as pessoas foram costurar connosco. Fazemos “oficinas”, digamos.
JM – Além dessas “oficinas” e da realização desses encontros em que fazem tricô, macramé, etc, que outro tipo de atividades é que são desenvolvidas pelos membros da comunidade?
SC – Temos o projeto da Nhacra, na Guiné-Bissau, que também está sempre latente. Há uma organização lá que nos diz, mais ou menos, do que é que precisa. De três em três meses, conseguimos mandar material para lá. Por exemplo, no “Vamos à Vila” “vendíamos” os vestidos, mas não havia pagamento, as pessoas iam comprar um tecido à loja local e a gente trocava por um vestido.
DV – Só que o tecido, normalmente, dava para fazer dois vestidos, portanto nós ficávamos a ganhar nesse aspeto. A pessoa levava o vestidinho e nós ficávamos com tecido para fazer dois.
SC – As pessoas diziam “mas qual é o pagamento?” e nós “Olhe, vá ali à Dona Valentina e traga-nos dois metros de tecido à sua escolha”. Agora, nesse projeto de Nhacra, nós estávamos a fazer roupa para cerca de 140 crianças dos seis meses aos dois anos. Aquilo é um orfanato/enfermaria com crianças com HIV e SIDA, todas as crianças com patalogias crónicas graves são colocadas lá.
DV – E também serve como maternidade.
SC – Eles não querem crianças doentes na sociedade. A Irmã Verónica fez-nos o pedido de “vestirmos” 140 crianças. Após o último contacto que recebemos dela estamos à espera do que se pretende. Ela pediu-nos roupa para os que têm menos de seis meses e para fazer, como se diz em Monchique, um “farnelim” para um recém-nascido, para quando nascessem levassem para a casa um kit de fraldas, roupinha, no fundo, um enxovalinho.
JM – É o maior projeto que têm neste momento?
SC – Sim, esse está sempre muito latente e é o que exige mais porque nós temos comprado as coisas e temo-las feito. Enquanto que no Norte, principalmente, e no resto do país há muitas fábricas e as pessoas vão, pedem e dão-lhes restos de tecidos, nós aqui não temos nada disso. Aos amigos dos nossos amigos estamos sempre a solicitar um tecidinho. No início da pandemia, as “Agulhas Marafadas” tiveram um papel que eu agradeço como utilitária, não há palavras para agradecer e foi um papel que quase ninguém sabe. Não havia material, nomeadamente de proteção, para o pessoal de saúde, como as cóbulas e as botas. As cóbulas são aquela coisa que se punha na cabeça. Eu fiz um apelo à comunidade e, como estava toda a gente em casa e só eu é que circulava por motivos de trabalho, coordenava a entrega de material e depois a recolha. No barlavento algarvio, desde março até junho, todo o material de cóbulas e de botas foi feito por nós e aí tínhamos 10, 12 pessoas a confecionar. Não tínhamos mais e não foi por falta, visto que houve muita gente a se oferecer. Eu tinha que andar a pedir e na altura um rolo de tecido começou por ser 140€, no início de março, e em junho era mais de 400€. Voltei a pedir a quem? Aos amigos. Também pedi à Junta de Freguesia de Monchique, deu-nos um rolo, a de Aljezur também colaborou imenso e tinha gente a trabalhar que depois nos entregava, assim como Lagos. Ou seja, pedi primeiro às juntas de freguesia e depois fiquei com vergonha e passei a pedir a particulares. Ao mesmo tempo, nós confecionámos as botas e as cóbulas, começámos a confecionar as toucas e oferecemos muitas, mas também começámos a pedir um euro por cada touca e com os quais ainda comprámos cinco rolos de tecido.
Se alguém nos procura, nós, com as nossas agulhas, tentamos dar resposta. Não temos objetivos concretos para além de fazer o bem e de tirar pessoas de casa. Lembro-me da senhora Adília Serpa que chegou lá ao pé de nós e disse “eu não sei fazer nada” e hoje faz coisas maravilhosas. Ao fim de dois meses, ela disse-nos que “todos os dias espero pelo sábado para sair de casa, para estar com alguém”. Não se fala em doenças, é proibido, só se fala dos nossos projetos.
DV – E temos o tal “grupo duro”, que já fez umas viagens. Fomos sempre com a finalidade de irmos a feiras de tricô e depois vamos passear.
SC – Antes da pandemia, fomos aprender coisas novas porque são feiras em que vêm pessoas de todo o mundo dar workshops de coisas diferentes e a gente também vai ensinar.
DV – Andávamos a programar irmos à Escócia, a Edimburgo, mas entretanto veio a pandemia.
SC – Também temos projetos como tricotar no comboio, e já fomos até Faro a fazê-lo, fomos a Lisboa ao Jardim das Conchas, no Dia Internacional de Tricô também fomos lá. Fui também tricotar à noite na estação do Rossio, Lisboa, e foi maravilhoso porque estavam presentes muitos jovens. Na Gulbenkian também há vários encontros e quando estou em Lisboa, vou lá.
DV – E há sempre técnicas novas sobre as quais nós vamos trocando ideias e aprendendo.
SC – Depois, isto é uma terapia, uma ioga mental. O ser humano tem que viver de sonhos e nós ao estarmos a pensar “o que é que eu vou fazer?”. Há sempre um exercício mental que nos faz evoluir e que vai retardar doenças de motricidade fina, porque a mente está sempre a funcionar. Também estive, no âmbito das “Agulhas Marafadas”, a colaborar com a universidade sénior antes da pandemia. Tínhamos uma tarde por semana para ir lá, organizar e preparar um esquema, elaborar, fazer e ter paciência, porque o fazer e o desmanchar também é tricotar. É assumir o nosso erro. Às vezes pensa-se “isto é para mim, logo não faz mal”. Independentemente para quem seja, assumo o erro e tenho a paciência, ao que a gente chama a “paz pela ciência”, de desmanchar e de fazer bem. É o brio com que se fazem as coisas, que é muito importante em termos de criar personalidade.
JM – Além de vestidos ou do material médico, que outro tipo de peças é que produzem?
SC – Há uma “agulha marafada” que está a produzir bonecas. Esse elemento também gosta de inovar e de ensinar. O giro disto é que cada uma, mais ou menos, tem uma especialidade.
DV – E também fizemos para os prematuros. Não é muito fácil de arranjar roupa para prematuros e às vezes os pais são apanhados desprevenidos. Nós fazemos principalmente gorros e botinhas que entregamos nas maternidades do hospital. Quando nós ainda estávamos na Casa Manuel Teixeira Gomes, logo no início, fizemos gorros e mandámos para o IPO de Coimbra para as crianças. Elas perdem muito calor pela cabeça e pelos pés. Normalmente, estão nuas nas incubadoras, só têm a fralda, portanto põem-lhes o barretinho e as botinhas.
SC – E também fizemos um projeto dos polvos para o prematuros.
JM – Do que se tratou esse projeto dos polvos?
SC – São polvinhos do mar feitos em renda, em croché. Está provado cientificamente que a criança, ao se agarrar àquilo, é como se se agarrasse ao cordão umbilical. Um polvinho daqueles é colocado em cada incubadora e é terapêutico para os recém-nascidos prematuros.
O “nosso” hospital é o mais privilegiado, mas como há projetos de tricotar e de crochetar nacionais, porque há cada vez mais grupos a trabalharem, vamos entregando e é mais abrangente.
JM – E para além destes apoios em termos de roupas, fornecem mais algum tipo de apoio?
DV – Não. Entre nós, muitas vezes, ajudamo-nos se tivermos algum problema, tentamos ajudar-nos umas às outras.
SC – Quase que é uma família, mas aí está a parte emocional e afetiva de tirar as pessoas de casa e de criar um núcleo de amizades. Nós temos o objetivo de criar um espaço para estarmos mesmo sediadas em Portimão, em que as pessoas saibam que estamos sempre lá. Isso está em resolução com a câmara e achamos que, brevemente, esta nos vais ceder um espaço.
DV – O tal “núcleo duro” encontra-se muitas vezes aqui em casa da São, para passar um fim de semana em Monchique. Para nós, é ótimo, pois saímos do nosso ambiente e tricotamos.
SC – No verão, também gostamos muito de tricotar no jardim porque é em público, mesmo para desmitificar a ideia de que “a minha avó é que fazia isso”. É trazer as raízes à cena atual e eu sou muito de raízes.
JM – Quantas pessoas é que já apoiaram até hoje e de que lugares?
SC – Não imagino. Nós, antes do projeto de Nhacra, estávamos a trabalhar para a “Little Dress For Africa”, que é um projeto também de vestidos. Depois nós começámos no de Nhacra que é mesmo nosso, mas, desde o início dessa iniciativa, já enviámos cerca de 650, 700 vestidos, calções, t-shirts.
DV – Para os meninos, fazemos os calções e depois compramos t-shirts ou outras pessoas oferecem e nós juntamos.
SC – Em relação às botas e às cóbulas não sei. Eu tenho isso tudo registado, mas para os profissionais todos de saúde foi muito mesmo. As capas e as botinhas, todos os anos andam à roda dos 30, 40, porque é entregue em todas as medicinas. Em Portimão e Lagos são quatro, portanto dá muito mais, 80 e tal botas e xailes.
JM – Quantos parceiros é que têm neste momento a colaborar e a apoiar a vossa comunidade?
SC – Não temos ninguém mais, não há apoio. As pessoas só colaboraram na altura em que faltou material.
DV – Mas isso foi só na altura do início da pandemia.
JM – Por exemplo, na questão da Guiné-Bissau. Estava a falar de parceira mais nesse sentido, de ser uma coisa que já se prolonga mais no tempo em termos da ajuda que providenciam.
SC – Pois, mas é um parceiro que é um compromisso emocional, não é mais nada. O projeto maior para Nhacra, que estava definido antes da pandemia e que mais ou menos as coisas estão encaminhadas, era nós não sermos os pescadores, mas irmos ensinar a pescar. Ou seja, nós produzirmos a roupa para lá, sabemos que, infelizmente, nunca vai sei suficiente, porque estão sempre crianças a nascer e é sempre uma necessidade.
O nosso objetivo era conseguirmos 10, 12 máquinas, irmos para lá 8, 10 dias ensinarmos a trabalhar com elas, ensinarmos a fazer os vestidos, deixar lá as máquinas e vir embora. O facto é que começámos a divulgar este nosso objetivo e houve um senhor que achou muito interessante e disse, isto antes da pandemia, que nos ia entregar as 12 máquinas. Começámos a pensar em ir, mas surgiu a pandemia. Neste momento, continua a ser um objetivo podermos voltar a entrar em contacto com a pessoa que nos disse que nos entregaria as máquinas.
JM – Uma pessoa também pode ir ao jardim e dizer que quer fazer parte da comunidade?
SC – Sim.
JM – E pode começar instantaneamente?
SC – Logo! A gente quer é que vá muita gente. Por isso é que gostamos que seja em público. Chegámos a ter grupos de 12, 18 pessoas que se encontravam. Também não vamos ficar uma tarde inteira num café a consumir um chazinho ou um bolinho. Lógico que consumimos, mas os cafés também não são tão grandes.
DV – A nossa maior dificuldade neste momento é a falta de um espaço. As pessoas de fora têm mais dificuldade em saber onde estamos.
SC – Para além disso, a costura tem de ser sempre com uma máquina, é uma coisa algo mais específica. Então fazemos estes encontros e publicamos. Em Monchique, muito brevemente, vamos fazer mais um, porque as pessoas gostaram imenso.
DV – Nós não somos um associação. Não temos estatutos, isto é só uma comunidade puramente voluntária.
JM – Já chegaram a receber algum feedback das pessoas de regiões para onde tenham enviado as vossas peças?
SC – Sim. Não tantas quanto a gente gostaria. O feedback é sempre “obrigado”. Agora, nós costurarmos um vestido e vê-lo em determinada criança é maravilhoso. Por vezes, chegam-nos fotografias e nós exclamamos “Ai, o meu vestidinho” ou “Ai, os meus calções”, mas é uma agulha num palheiro. São tantos que é difícil descobrir naquelas fotografias todas. Nós temos a certeza que as coisas chegam lá, se é esse feedback, é garantido.
JM – É mais no sentido da satisfação que sentem quando alguém chega ao pé de vocês e diz “olhe, esta criança ficou tão contente com o que vocês fizeram”.
SC – Isso vê-se por algumas fotografias de lá, mas nós não trabalhamos muito por isso.
DV – No projeto de Nhacra, normalmente, mandam-nos um pequenino vídeo, neste caso, a Irmã, a vestir um vestidinho ou a entregar a uma criança. A São fala muitas vezes com ela ao telefone e ela agradece imenso.
SC – A Irmã Verónica é uma senhora com 86 anos, que faz de tudo. Ela é incrível e queria muito que fôssemos lá.
JM – E o que é que sentem quando recebem esse feedback?
DV – É difícil dizer, mas é muito bom.
JM – Quais são os planos que têm para o futuro da comunidade?
SC – É o que precisarem.
JM – Não há uma coisa específica ou algo em que gostariam de chegar mais longe?
SC – Não. Há muita gente que nos diz “ah, estão a fazer para África quando aqui perto de casa se precisa”. No entanto, nós estamos aqui para o que precisarem. Por exemplo, a história de quando foi o início da pandemia e foi uma coisa silenciosa, não estivemos lá. Podemos dizer “Salvámos muitas vidas”, sim. Se nós todos estivermos um bocadinho atentos, que é esse também o nosso objetivo, nós estamos lá para ajudar e para ensinar a fazer, porque as coisas oferecidas são muito boas, mas não são valorizadas. Agora, temos a possibilidade de pôr nas costas de uma pessoa um xaile quente quando a família não traz nada e diz “ai, que bom, que quentinho”. Há algum pagamento melhor do que este? Enche a alma. Portanto, o nosso projeto maior é o de Nhacra, mas nós não estamos sempre a fazer vestidos, podemos fazer um xaile ou isto ou aquilo para nós também, para oferecer, que é a melhor coisa que a gente faz.
Também estivemos a colaborar com a Espiral de Vontades, viemos cá várias vezes e também fizemos em casa.
DV – Uma vez, passámos um dia no próprio hospital em Portimão a fazer xailes, botinhas e outras coisas para além do que fizemos em casa. Depois as peças ficaram lá.
SC – Isto foi para os funcionários do hospital aprenderem a fazer e para fazerem para a comunidade hospitalar.
JM – Portanto, não há assim uma coisa concreta para o futuro, é basicamente continuar a vossa missão?
SC – É isso, estamos aqui.
DV – Eu não sou de cá, sou de Lisboa, mas já vivo cá há 40 anos e, antes de me juntar a este grupo, vivi sempre em Portimão. Eu não tinha uma pessoa sobre a qual eu dissesse que era uma amiga e desde que me juntei a elas tenho este grupo de amigos que me têm ajudado muito em várias circunstâncias, pelo qual eu me sinto muito agradecida. Não é só o tricotar, é a amizade, o companheirismo, a confraternização em todos os aspetos. Costumam dizer que muitas mulheres juntas que dá sempre problemas, mas connosco nunca houve problemas e damo-nos muito bem, cada qual tem a sua maneira de ser, a sua vivência particular, respeitamo-nos todas umas às outras nesse aspeto, mas estamos juntas, divertimo-nos, brincamos, rimos. Logicamente que o nosso objetivo é também ajudar os outros. É um grupo maravilhoso.
SC – Se levar o seu próprio projeto e quiser fazer, não há imposição de nada e nem se diz “olha eu fiz 10 vestidos e a outra só fez dois”. Por exemplo, eu faço calções, mas também já fiz uns vestidinhos. Há senhoras que fazem 100 vestidos, eu só faço dois e ninguém cobra o que cada qual fez.
DV – Também há dias em que eu chego lá e digo “Olha, hoje não faço nada, hoje venho só para o pé de vocês para fazer companhia”.
SC – É um espaço zen e é isso mais pretende. Estou muito confiante nos jovens, que são muitos. Hoje em dia, há licenciaturas e mestrados em tricô, em artes criativas destas. Por exemplo, vou a um congresso, levo o meu tricô e estou no congresso a tricotar. Ainda no outro dia alguém me disse “Mas que coragem” e eu disse “Que coragem? Vocês estão todos agarrados ao telemóvel. Eu estou a ouvir perfeitamente, estou a tricotar porque não preciso de olhar e é outra maneira de estar”. No fundo, é isso, uma maneira de estar.
Por Diogo Petreques
Legenda da foto de destaque: (da esquerda para a esquerda) São Cruz, Adília Serpa e Deolinda Vicente