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O Povo

Depende da época, da localização e da cultura, entre outros, o conceito atribuído a povo. Na civilização romana a sociedade constituía-se em dois grupos principais, os patrícios e a plebe, o povo, que inicialmente não possuía quaisquer direitos políticos. Na Idade Média o povo continuou a ter a categoria de cão, muito longe da de cidadão. Em Portugal, como o regime da outra senhora ainda considerava as mulheres abaixo de cão, estas quase que não eram povo.

As mulheres só foram povo nos versos de Pedro Homem de Mello “povo que lavas no rio”, dado que nunca foram vistos nem imaginados homens nessa húmida tarefa.

Foi preciso o 25 de Abril, o derrube da ditadura, para elas ganharem o direito à autodeterminação, de não necessitarem da autorização do marido para muitas coisas como saírem do país. E de votarem. E de votarem!!!

Foi preciso o 25 de Abril, os militares pegarem em armas, para ser devolvida a democracia ao povo, porque “o povo é quem mais ordena”.

E já António Aleixo predizia “porque o povo diz verdades, tremem os tiranos”. E caem.

Foi preciso o 25 de Abril, o povo plantar cravos nos canos das espingardas, para serem libertados os presos políticos, para deixar de ser punido o pensamento. Vem a propósito um extrato de um poema de Pedro Tierra:

Fui poeta
do povo da noite
como um grito de metal fundido.

Fui poeta
como uma arma
para sobreviver
e sobrevivi.
Companheira,
se alguém perguntar por mim:
sou o poeta que busca
converter a noite em semente (…)

Pedro Tierra escreveu estes versos no cárcere da ditadura militar brasileira. O curioso é que, com “léguas a nos separar, tanto mar”, lá se estava doente pela força dos militares, enquanto cá eram as forças armadas a pôr o povo contente com “o cheirinho a alecrim”. Cá, os militares revoltaram-se pelo povo, tomaram o poder em nome do povo, e depois o devolveram ao mesmo povo.r

(Nota: perdoem-me, mas hoje, como há 44 anos, estou tão contente que não me apetece brincar.)

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