O Congresso Regional Algarvio de 1915 e os seus reflexos no Concelho de Monchique (II)
A Acção da Sociedade de Propaganda de
Portugal, em Monchique
Na imprensa encontrámos algumas iniciativas promovidas em Monchique pela Sociedade de Propaganda de Portugal. Em meados de Fevereiro de 1913 o concelho acolheu um grupo de 25 jornalistas britânicos, numa excursão organizada por esta agremiação. Tinham previsto ir «à Fóia nos jericos do costume, de onde descerão pelo Barranco dos Pisões, um dos mais encantadores sítios, visitando depois as Caldas». Todavia, devido ao mau tempo que se fazia sentir não chegaram a passar do convento. Jornais como O Algarve deram bastante destaque a esta visita e informavam que a Câmara de Monchique «tinha tomado a seu cargo todos as diligências, as despesas da estadia e o almoço nas Caldas de Monchique». Na vila foram recebidos por personalidades ligadas à vida social e à SPP, nomeadamente João Gregório de Figueiredo Mascarenhas, Dr. Francisco do Rego Feio, José Sebastião, Isidro Baptista Costa, António Joaquim Carrapiço Segurado e Silva, Joaquim Mascarenhas Pacheco, Dr. Julião de Sena Sarmento e José de Castro, tendo sido recebidos na Câmara.
Em Março de 1913 foi a vez dos elementos directivos da sociedade visitarem o concelho, com passeios organizados aos locais mais aprazíveis, tais como o «convento dos Franciscanos, Penedo do Buraco e Fóia».
No Domingo dia 18 de Abril de 1914 foi criada na vila uma delegação da Sociedade de Propaganda de Portugal, «para servir a propaganda e o progresso do Algarve». A sessão inaugural teve lugar na sala do tribunal a 22 de Abril e contou com a presença do administrador António Augusto Alves, tendo havido discursos e eleição dos corpos gerentes, com a escolha do médico Dr. Bernardino Moreira da Silva para presidente, do secretário da Câmara Municipal, António José de Magalhães (tesoureiro) e o notário Bernardo Júdice Carneiro e Costa (secretário). Da delegação local faziam ainda parte o professor oficial António Rufino Marreiros, o farmacêutico António J. Carrapiço Segurado e Silva, o solicitador forense Manuel João da Cruz Neto, o oficial do Registo Civil Dr. José António dos Santos e o administrador das Caldas de Monchique, D. João Carlos da Costa de Sousa e Macedo Mesquitela. No dia seguinte deslocou-se à vila o societário Jaime Pádua Franco, com o objectivo de preparar a instalação de um posto meteorológico patrocinado por aquela agremiação.
Esse posto meteorológico seria inaugurado a 11 de Outubro de 1914, o qual se enquadrava na óptica de outro já instalado dois anos antes na Praia da Rocha. Na cerimónia de inauguração encontravam-se presentes, além do Dr. Pádua Franco e várias personalidades algarvias, os republicanos e autoridades de Monchique, nomeadamente o Dr. Bernardino Moreira da Silva (presidente da delegação local desta sociedade), António Augusto Alves, António dos Reis Callapez, Francisco dos Reis Callapez, António José de Magalhães, José Guerreiro Gascon, Dr. José António dos Santos, António Rufino Marreiros, Joaquim Valério Andrés, Vitorino Lino Martins e Abel Abílio de Sena Raposo. O engenho ficaria instalado numa varanda do edifício dos Passos do Concelho.
Por sua vez, o ministro do Fomento Almeida Lima visitou o concelho, ainda em Outubro, com a finalidade de inspeccionar as estradas e apreciar o posto meteorológico da SPP. Em Portimão ficaria hospedado no Hotel Viola, onde teve lugar o almoço com as personalidades da região.
Em 11 de Junho de 1915, pelas 22 horas, realizou-se em Faro uma sessão da Comissão Executiva da Comissão Organizadora do Congresso Regional Algarvio, que foi presidida por Tomás Cabreira, secundado por Jaime Pádua Franco, Dr. Agostinho Lúcio da Silva, coronel João de Vasconcelos, Jaime Barrot, António de Magalhães Barros, Dr. Alberto Carrasco Guerra, Fernando da Silva David, Mateus Moreno e Jacinto da Cunha Parreira. No acto foi decidido convidar para fazerem parte da Comissão Organizadora várias individualidades de todos os concelhos do distrito, com destaque para o de Portimão, por ser o anfitrião.
No caso de Monchique os participante seriam elementos da comissão local da Sociedade de Propaganda de Portugal, que como vimos era presidida pelo Dr. Bernardino Moreira da Silva, mas também os autarcas republicanos e algumas figuras de peso na sociedade local.
O congresso seria precedido de várias iniciativas que tiveram lugar pelo distrito, nomeadamente a composição e apresentação da Canção da Praia Rocha.
De destacar que a iniciativa do congresso da Praia da Rocha tinha sido inspirada pela 4.ª edição do Congresso Internacional de Turismo que se realizou em Lisboa em 1911, sob a égide da Sociedade de Propaganda de Portugal.
O 1.º Congresso
Regional Algarvio de 1915, na Praia da Rocha
A 3 de Setembro de 1915, com sessão inaugural às 11 horas, teve início no Casino da estância balnear aquele que ficou conhecido como o 1.º Congresso Regional Algarvio, que também foi promovido pela Sociedade de Propaganda de Portugal, sob a presidência de Tomás Cabreira.
A organização do evento esteve a cargo do núcleo de Portimão da Sociedade de Propaganda de Portugal, que era então presidido por António Teixeira Biker tendo-se este concelho feito representar por várias individualidades republicanas ligadas à vida política, económica, social e cultural.
A primeira sessão de trabalhos realizou-se às 22 horas tendo tomado a palavra o seu presidente, que tinha como secretário-geral Jaime Pádua Franco. Na comissão encontravam-se ainda as seguintes personalidades: Jacinto da Cunha Parreira (secretário), Fernando da Silva David (secretário), Mateus Martins Moreno (secretário), Dr. Alberto Carrasco Guerra (vogal), Eng. Aboim Inglês (vogal), Dr. Agostinho Lúcio da Silva (vogal), Dr. Alberto Madeira (vogal), António Júdice de Magalhães Barros (vogal), José Parreira (vogal), Eng. Aníbal Lúcio de Azevedo (vogal).
O evento seria ainda impulsionado por Sebastião Magalhães Lima, republicano e grão-mestre da Maçonaria, uma organização que esteve por detrás do acontecimento. Outro dos presentes no fórum seria o irmão do presidente da mesa, o académico, matemático e astrónomo António Tomas Cabreira. Também o académico João Viegas Paula Nogueira se associaria ao evento apresentando uma comunicação. Outras personalidades referidas nos jornais foram Jaime Barrot, coronel João de Vasconcelos, José Francisco da Silva, o pintor Carlos Lyster Franco (cujas obras decoraram as paredes da sala) e o jovem Mário Lyster Franco.
Os organizadores tentaram cativar e envolver no evento as elites cultas e participativas dos concelhos algarvios, sobretudo as ligadas às comissões locais da SPP, como foi o caso de Monchique, em cuja Comissão Organizadora encontrámos o Dr. Bernardino Moreira da Silva (presidente do núcleo da SPP e da Câmara Municipal), António Rufino Marreiros, João Gregório de Figueiredo Mascarenhas, António José de Magalhães, Manuel João da Cruz Neto, Manuel Lopes Garcia Reis, Dr. José Samora Gil e o Dr. João Bentes Castelo-Branco. Este último apresentaria a comunicação intitulada Clima do Algarve, que saiu impressa.
A participação no congresso estava aberta a qualquer pessoa e implicava o pagamento de um escudo e a atribuição de um cartão de identificação com a fotografia. Todavia, as senhoras não podiam participar nos debates. A afluência de público foi também enorme.
Apesar de já ser bastante conhecida, a Praia da Rocha despertara assim para um turismo de carácter mais massificado, passando a ser a coqueluche dos banhistas endinheirados e fazendo proliferar os chalés da burguesia republicana.
O evento ganhou foros de âmbito nacional e teve a cobertura de vários órgãos da imprensa nacional e regional, que sobre ele foram dando notícias.
CONTINUA
(Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico)