Medicina anti-idade: não esqueça que o “rejuvenescimento” tem limites naturais

Vivemos cada vez mais tempo, procuramos viver com saúde e retardar o envelhecimento. Importa não esquecer que vai uma grande diferença entre envelhecimento e velhice. O envelhecimento é um processo biológico, envolve os aspetos somáticos, psíquicos, enquadra-se na demografia, na economia e na política; a velhice é uma construção histórica e cultural, quer isto dizer, depende das representações que lhe consagramos, positivas ou negativas.

Acontece que agora há um ramo da medicina que trata o processo do envelhecimento como uma doença, gerou-se uma forte crença social de que é preciso lutar contra o envelhecimento não só com estilos de vida saudáveis, não só com cosméticos ou até através da dermonutrição, a medicina anti-idade propõe-se combinar todos os saberes sobre a nutrição e as técnicas da medicina estética para reduzir os sinais do envelhecimento, tanto no plano físico, psíquico e estético. Define-se como uma medicina de prevenção, encoraja as pessoas a preocupar-se o mais cedo possível com a sua saúde, uma vigilância que deve começar muito cedo, propõe que se faça com regularidade um balanço biológico completo, rastreios e, claro está, estilos de vida saudáveis. Há imensas críticas de contestação a esta medicina anti-idade. Porém, os críticos mais severos não deixam de chamar a atenção para um aspeto positivo que é a ótica do bem-estar que ela valoriza. A geriatria e a gerontologia recordam que o processo de envelhecimento é irreversível e que envelhecer não é uma patologia, há que saber enfrentar os preconceitos e estereótipos sociais da velhice. E a visão da medicina anti-idade é forçosamente redutora, para que todos nós envelhecêssemos bem era preciso que estivessem em convergência políticas ao nível da educação, do emprego, da habitação, o que não acontece. Fica pois no terreno o recurso a outros ingredientes: a cosmética, o culto do corpo, o sonho de uma alimentação que vitaliza permanentemente, os cuidados com a hidratação da pele. Quando chegamos aos cremes, cai-se na real. Os cremes anti-idade são de eficácia duvidosa. Das várias substâncias utilizadas nestes cremes, a única com efeitos devidamente comprovados é a vitamina A, ou ácido retinóico, que atua sobre as rugas de superfície, as manchas do envelhecimento e a pele áspera. Ora os produtos de que dispomos à base deste ácido são medicamentos. Quanto aos cremes antirrugas, é verdade que atenuam as rídulas, mas não eliminam coisa nenhuma, são cremes que dão conforto, luminosidade, tonificam e hidratam a pele, o que já não é nada mau. Quem quiser ir mais longe, terá que se socorrer da cirurgia estética, usando métodos como a abrasão, mas sob estrito controlo médico.

Diga-se em abono da verdade que os cremes hoje no mercado são bastante mais eficazes dos que existiam há 30 ou 40 anos atrás. Mas ainda não foram descobertos os tratamentos para retardar duradouramente os mecanismos do envelhecimento.

Moral da história: para envelhecer melhor pense positivo, acalente sonhos, cuide de si e dos outros, coma variadamente e de tudo com conta, peso e medida, use cremes que lhe deem conforto e lhe tonifiquem a pele, recuse o tabaco, mexa-se. Como escreveu o grande romancista Gabriel García Márquez, a idade não é a que temos mas a que sentimos.

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