Quem se lixa é a moule (o mexilhão)
«Foi por milagre que nasci profana».
Fausto musico/compositor português
Bruxelas acordou com sol, e o céu a espreitar querendo alegremente cumprimentar. Nada normal. Cinza é a cor desta bela cidade onde estou a viver.
Um dia normal não teria um policia num supermercado a dizer “regresse para casa até ser levantado o alerta máximo” o estado de alerta a que chegou esta cidade.
O parque em frente a casa estaria cheio de miúdos a jogar à bola. A vontade normal das pessoas é de ir tomar café e passear conversas serenas em esplanadas coloridas nesta cidade elegante, requintada, bonita e alegre,apesar de todos a saberem segura por ser o coração da vigilância europeia.
Mas o normal hoje, seria como ir para a praia com uma esteira enrolada, pronta a abraçar o mar, num dia com aviso de tsunami.
Quarto dia de alerta máximo em Bruxelas. Tudo mais ou menos fechado e o caos começa a moldar-se à pele, medo, insegurança e as questões que se impõe: o que é isto? o que nos ameaça? que fazer? onde e quando vai acontecer? a querer-se instalar na vida das pessoas nesta bela cidade gris. Mas…
Saio à rua e observo os sinais de normalidade por todo o lado e a tranquilidade que nos devolvem alguma cor à imaginação, a nós humanidade.
Porque o ser humano antes de ser um autómato guiado pelo medo é uma alma livre e viva. E inteligente. E isso os psicopatas não entendem. (pertençam eles a estados, governos, grupos fanáticos, braços armados ou outros).
Mas é preciso entender o que nos faz aproximar cada dia do cenário de 1984 de George Orwell. Nem toda gente pode ser enganada ao mesmo tempo e a informação está aí para ser estudada.
Mesmo com sustos que me cortam a respiração e me deixam de pernas trémulas, ainda tenho muita vida para aproveitar. Mas, se me cruzar numa esquina da vida, com um desgraçado, também ele manipulado, seduzido e enganado, esquecido pelos Estados, abandonado à sua sorte, onde o tributo que lhe pedem ao crime contra a vida sagrada é a sua própria morte, fazendo-se explodir, então que fique a saber que apenas lamento a escolha. Vocês jovens estúpidos, perderam a alma e são também vítimas do caos.
A minha escolha é ver cair neve hoje e amanhã ver nascer o sol. Se vos der jeito claro. Para ver nascer um novo dia, desculpem lá qualquer coisinha, como andar por aí, mas não deixarei de o fazer. Algum anjo há-de tomar conta. Ou não.
Como alguém de disse “eu tinha de escolher um sítio para viver com adrenalina”. Podia viver sem ela? Poder podia, mas não era a mesma coisa. Sabem o que vou continuar a fazer?
Cuidar da vida ou viver com o cuidado possível enquanto me for permitido existir neste mundo bonito com algumas gentes muito feias possuídas pela ideia fantasiosa de que o mundo lhes pertence. Dá dó!
Eu profana, penso apenas numa nova religião/paradigma. Da paz, da inclusão. É obrigatório! Este é o meu dogma.
Vamos lá rir e beber umas cervejas belgas, acompanhadas de mexilhões, enquanto vivemos a aguardar qualquer coisa parecida com a normalidade em guerra. Ou um ataque.
Frente a frente estão as religiões: terrorismo religioso (…) a religião da ignorância e, o capitalismo, a religião da ganância. Juntam-se à religião da banalização do mal (teoria de Hanna Arendt) e o resultado é uma vida de pesadelo para gente do bem.
A Europa tem sido um alvo de venda da sua alma por gente que vive para desunir. Os árabes e os muçulmanos trouxeram enormes riquezas à humanidade nos campos científicos, da medicina, da literatura, da matemática, da filosofia, da geometria, assim como os europeus.
Deixo-vos um pedido: não nos aquietemos com a desinquietação que nos querem fazer engolir. Desinquietemo-nos com a manipulação a que nos submetem.
Esta cidade saberá de novo mostrar apenas o seu requinte e alegria, normalmente.
As dores passam e sorrir voltará a ser obrigatório, ou não fosse tudo isto uma comédia anormal, doente de loucura, infeliz e de mau gosto.
(Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico)