Os zés de ninguém
Sem surpresas vemos o rosto bruto e feio da natureza humana. A pobreza é um negócio que dá grandes lucros. Os que dela se aproveitam são o seu capital. Por estas simples razões convém tê-la – à pobreza – sempre num palanque elevado. Que o digam os pouco sérios que lucram com os zés-de-ninguém.
Os quase todos que andam bem vestidinhos, bem comidinhos e beneficiários do aumento da pobre desdita há anos a esta parte. Nos quatro cantos da bolinha azul. Usam o amoroso trabalho voluntário e por causa dela recebem milhões dos Estados e como prenda suplementar nenhuma fiscalização. Um acordo generoso a partir do Estado que se demite das suas funções e senta nas filas da frente todos os que afinal nunca deixaram a mama da mãe. O pai senta-se na manjedoura fingindo-se benfeitor. Aqueles que tiraram a factura da sorte – e são muitos – têm nomes, moradas, partidos políticos, assento nas igrejas, nas organizações secretas, números de contribuintes e alguns, lavandarias em paraísos de águas quentes.
Logo agora chega a época de pensar no amor, na solidariedade, na caridade, nos zés-de-ninguém e naquele que dizem ter nascido para nos salvar. Logo agora quando tanto poço fedendo se destapa. Como a seca é grande, não há água que cubra os dejectos deixando o cheiro vir ao de cima. Pergunto-me – retoricamente falando – o espírito Natalício não é sobre amar os outros? sem sermos obrigados, incluindo outros dias do ano? Então estou safa! É que já sangro amor voluntário o ano inteiro. Posso agora aproveitar a época para estancar um pedacinho enquanto como uns sonhos. De abóbora e batata doce. E os partilho com algum zé-de-ninguém. Porque os sonhos têm por essência o amor.
Entretanto, espero a chegada de Jesus, vindo dos seus afazeres, quem sabe para o ajudarmos em conjunto a fazer algo útil ao colectivo, como por exemplo, expulsar os vendilhões e as almas que se deixaram comprar e que agora sem máscaras, se começam a mostrar. Se existiu, havia de gostar de saber que estamos prontos a fazer o que ele fez.
Antes vê-los denunciados com toda a gente a gritar de indignação – enquanto se tenta perceber onde pára a nosso dinheiro – que ver o livro de reclamações branco de silêncios.