Os papéis
Vivemos num tempo em que a escrita já não precisa de papel para ser divulgada, para comunicar entre as pessoas. Até já as receitas médicas são transmitidas eletronicamente, sem papel. O Jornal de Monchique, embora continue a ter o cheiro e o tato especial do papel, também se publica on-line.
O papel que o papel teve e ainda tem para a comunicação, o registo e a divulgação do conhecimento é inquestionável. Na facilidade de manuseamento e de arquivo que permitiu, desde que foi inventado pelos chineses, o papel não se compara com os seus precursores, o papiro (de origem vegetal e donde deriva o nome papel) ou o pergaminho (feito de peles de animais). Outros suportes de escrita anteriores como tábuas de barro ou de pedra, ossos e cascas de árvores eram ainda muito mais complicados.
Há, porém, um formato de papel que, embora pequeno, faz mover o mundo: as notas. E quem tem muito papel age como dono disto tudo, ultrapassando leis e justiça, explorando os pequenos que facilmente envolve em papel de embrulho e deita pelo cano abaixo como de papel higiénico se tratasse.
Também aqui, neste tipo de papel, a coisa evoluiu, ao ponto de não serem necessárias sacadas de papel, de notas, para se fazerem transações. É tudo em papel virtual: dá-se uma ordem por computador e já está. E até é muito mais fácil levá-lo para offshores, como fizeram com mais de 10 mil milhões de euros em cinco anos, desde que entrou a troika. E esses foram os que foram comunicados às finanças, legalmente saídos do país para pagarem menos impostos. Que quem tem de os pagar são os que fazem papel de parvos.
Fora os milhões das falcatruas e roubos, de que as finanças não têm conhecimento, como os agora desvendados pelos Papéis do Panamá. Aldrabões e corruptos são tantos que parecem copiados a papel químico. Não havendo uma forma fácil de os identificar, como se faz a uma solução ácida que muda a cor do papel azul de tornassol, terão de ser divulgados os nomes dos envolvidos no saco azul do BES, cuja existência chegou a ser negada. Azuis também, e sem verem a cor do dinheiro, andam os enganados pelo papel comercial, tóxico, vendido aos balcões daquele banco.
E, por este andar, nem o Espírito Santo nos livra de continuarmos a andar aos papéis e de termos de ser ainda nós a entrar com papel para mais esta fatura.