O que é a «Silly Season»
(para uma compreensão não necessariamente exaustiva)
Sem pretender ser exaustivo, escrevo-te, caro leitor, para elucidar-te sobre a “silly season”. É que ela não é verdadeiramente “silly”, nem é verdadeiramente “season”, mas uma mistura das duas, um híbrido de conjugação prodigiosa, como cabeça bífida em desfocagem.
Mas de onde vem esta noção de silly season e como se difundiu, ou disseminou pelos quatro cantos da terra?
Recorro pois à definição constante em Infopedia.pt que nos diz ser “Expressão inglesa que designa o período do ano de menor intensidade informativa nos media, geralmente o período de verão. Pode ser traduzida por “estação ridícula”. Nesta altura, os critérios de seleção jornalísticos tornam-se mais flexíveis, passando a considerar como relevantes assuntos que, geralmente, não constituiriam objeto de notícia”.
É pois um sentido bizarro que perpassa, o desta expressão da língua inglesa, que permanece no nosso imaginário colectivo e que se confunde com uma estação modorrenta em que praticamente nada acontece (também do ponto de vista jornalístico), excepto banhos de praia e festas mundanas, para que daí saiamos revigorados, “out of the silly season” e regressemos a actividades mais edificantes.
Esta civilização das férias, institui os seus santuários, como Biarritz, Cannes ou Nice, San Remo, Punta Cana, Antalya, o Algarve “itself”, como nos diz Torga: “O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria”, confirma-nos o autor, o atributo eminentemente lúdico da região, no seu livro “Portugal”.
Assim, associamos a expressão a uma certa ideia de tempo livre, de praia, de mar que se estende à nossa frente, num azul “so silly” e compreendemos a relação cromática de tal estação com a profundidade do azul do mar, “so silly, dear”. Mas a estação não vive só de água e do seu uso balnear, não exclusivamente, também ela se tornou “fire season”, profunda e recorrente estação de doloroso calor, ardente, por cima de nós, vindo de todos os lados, por dentro do corpo e saindo por todos os poros. Um calor irracional e abrasador à la Dante Alighieri.
E com tais temperaturas desejaríamos porventura um tempo “so lily”, desejaríamos que a seiva perdurasse no atravessamento da estação, alimentando lírios nos vales profundos, sem que a extinção os visitasse ou que outras práticas culturais levassem à sua precoce erradicação.
Humidade, palavra tão escassa, quase extinta no nosso vocabulário comum, nunca mais tendo rimado com a palavra verão, so silly indeed.
Os rituais tolos da cerveja a metro ou caipirinha, ou o shot cronometrado, demasiado sol na moleirinha, a incessante procura da fotografia perfeita ao pôr do sol (sunset my dear, ouço a meu lado) e outras inutilidades e bibelots, são aquilo que qualifica a estação das férias, a rimar com fare niente ou muito perto disso.
E após esta estação incontornável voltamos às nossas actividades menos “silly”, esvaziamos os bolsos de areia, extinguimos o sal das toalhas, regressando ao lar, aos nossos empregos, a um curso de inglês ou de boas maneiras, aos estabelecimentos escolares, a uma vida menos fútil.
Ou tentamos que assim seja, até à próxima estação tola.