Meio rural em mudança (II): mercados de proximidade, turismo e natureza

Em artigo anterior sobre esta matéria procuramos responder à questão “como é que podemos incubar e acelerar a passagem de um rural tardio, pobre e remediado, para um neorural inteligente e criativo?”.

O espaço rural e os seus territórios em que assenta estão em mudança por via da aplicação generalizada dos meios teconológicos da era digital e da abordagem ecológica com que são encaradas pelos novos atores.

A agricultura de precisão e o turistificação do mundo rural constituem dois exemplos dessa mudança que está em curso. Agricultura, ecologia, turismo e cultura podem gerar novas economias de aglomeração para o lançamento de novos projectos empresariais e de criação de emprego. Perguntar-se-á assim que oportunidades de empreender se nos afiguram hoje para os espaços rurais?

O professor da Universidade do Algarve António Covas (1), em artigo recente no Jornal Público (2), procura responder à questão identificando um conjunto de valências assentes em parcerias locais saudáveis e criativas que potenciam novos empreendimentos, novos projetos, novas empresas, a que chama a smartificação dos territórios-rede da 2.ª ruralidade. Estes “são uma malha fina e delicada de pequenos empreendimentos muito bem articulados entre si, verdadeiros laboratórios para testar pequenas economias de aglomeração. O segredo do sucesso destes territórios-rede é a instituição de um ator-rede que seja capaz de ouvir, interpretar, promover e realizar as aspirações de um território que é sentido e desejado.”

Vejamos alguns exemplos de empreendimentos, uns em fase de arranque, outros em fase de desenvolvimento emergente, de acordo com o autor em apreço.

Um “sistema alimentar local (SAL)”.
O comércio de proximidade
A partir da agricultura social e periurbana e por via de uma rede de circuitos curtos, podemos organizar o comércio local de produtos alimentares de proximidade; ao mesmo tempo, a parceria local aproveita para requalificar o sistema de espaços e corredores verdes, utilizando, por exemplo, as hortas sociais, as linhas de água e os bosquetes multifuncionais, tendo em vista articular as áreas urbanas, as áreas rurais e as áreas naturais.

Uma “denominação de origem protegida (DOP)”
No quadro de um parque natural ou de um subsistema serrano, por exemplo, podemos (a parceria local) modernizar o sistema produtivo local, criando, para o efeito, uma agroecologia específica, uma denominação de origem protegida (DOP) e uma nova estratégia de visitação do por via de um marketing territorial mais ousado e imaginativo.

Um “mercado ou segmento de nicho”
No quadro de um centro termal, de um aldeamento turístico ou de uma amenidade fluvial, podemos (a parceria local) recriar um nicho de mercado, por exemplo, um novo espaço público de qualidade para o “turismo acessível, terapêutico e recreativo” (turismo de saúde e bem-estar) com base numa pequena aglomeração de atividades terapêuticas, criativas e culturais criadas para o efeito.

Um “complexo agroturístico com campo de férias e aventura”
No quadro de uma empresa, cooperativa ou associação de desenvolvimento local podemos (a parceria local) lançar uma estratégia criativa e integrada de agroturismo e turismo rural que inclua a participação dos visitantes nas práticas agro-rurais tradicionais e a colaboração de voluntários de campos de férias, trabalho e aventura.

 Uma “rede de turismo de aldeias e touring de natureza”
Um grupo de aldeias com vocação especializada num determinado sector ou produto, as aldeias vinhateiras do Alto Douro, por exemplo, património mundial da Humanidade, associa-se com os empreendimentos turísticos, as associações ou clubes de produtores, uma escola superior e as associações culturais mais representativas, tendo em vista desenhar uma estratégia conjunta de visitação e valorização do património material e imaterial dessa sub-região.

Uma “marca coletiva” para o relançamento de uma gama de produtos
Um grupo de empresas, cooperativas agrícolas e associações de desenvolvimento associam-se tendo em vista desenhar e aplicar uma estratégia conjunta de modernização agrária e comercial para uma sub-região que foi objeto de investimentos públicos significativos e que precisa urgentemente de ser relançada (o regadio da Cova da Beira, por exemplo).

Um “sistema ou mosaico agroflorestal (SAF)”
No quadro de uma ou mais Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), associações de produtores florestais, reservas cinegéticas, áreas de paisagem protegida e as zonas de proteção especial, as comunidades humanas implicadas associam-se para constituir um “sistema agroflorestal (SAF)” ou agro-silvo-pastoril tendo em vista criar uma estratégia de intervenção integrada que vai desde a prevenção e recuperação de áreas ardidas à construção dos sistemas agro-silvo-pastoris com o seu cabaz completo de produtos da floresta.

Estes são alguns dos exemplos de domínios em que muitas iniciativas empresariais estão já em curso de desenvolvimento. Completaremos este espaço de reflexão em próximo artigo onde veremos que o lançamento de serviços turísticos, culturais e científicos e os programas de desenvolvimento comunitário de aldeias serranas e de montanha têm um papel importante a desempenhar, a par de outras iniciativas de economias de aglomeração.

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