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Medronho. Que futuro?

O medronho é um dos recursos mais divulgados e que produz maior riqueza na serra de Monchique, contando já com cerca de uma centena de produtores legalizados. É também mencionado em diversos estudos como benéfico para a saúde e com propriedades que podem diminuir a suscetibilidade ao desenvolvimento de doenças. Com o tempo, o fruto do medronheiro veio a tornar-se fator de interesse para fins terapêuticos, gastronómicos, artísticos e até como património de uma região e das suas gentes. No entanto, as centenas de milhares de litros de aguardente de medronho que se produziam no concelho de Monchique até 1960, atualmente foram reduzidas, segundo a Associação de Produtores de Medronho do Barlavento Algarvio (APAGARBE), para algumas dezenas de milhar, apesar das 50 marcas de aguardente de medronho existentes. As restrições, os impostos e as condicionantes ao fabrico são cada vez mais e o futuro é incerto.

Medronho de Monchique ou… do Algarve?
Tanto o Algarve, como o Baixo Alentejo têm características climáticas e de solo para o desenvolvimento do medronheiro. É neste contexto e nesta região que surgiu no início deste ano, a candidatura por parte da APAGARBE à Indicação Geográfica Protegida (IGP) «Medronho do Algarve».

Esta designação consiste numa classificação ou certificação oficial regulamentada pela União Europeia atribuída a produtos gastronómicos ou agrícolas tradicionalmente produzidos numa região.
A denominação «Medronho do Algarve» já estava prevista em regulamento desde 2008 devido ao «empenho da Direção Regional de Agricultura do Algarve em conjunto com a APAGARBE», e que «se impunha não deixar perder», esclarece José Paulo Nunes, presidente desta associação.

Neste momento, explica, «a candidatura foi apresentada a nível nacional e encontra-se já em consulta a nível internacional».

Esta IGP «é semelhante a outras existentes no Alentejo e que consideram áreas geográficas do Algarve». Estão 13 concelhos algarvios abrangidos, excluindo-se Lagoa, Olhão e Vila Real de Santo António e engloba ainda freguesias dos concelhos alentejanos de Odemira, Ourique e Almodôvar.

A razão da escolha destes concelhos deve-se ao facto da «aguardente de medronho não se produzir apenas no concelho de Monchique, podendo considerar-se até como um tipicismo simbólico da serra de algarvia, no seu conjunto», e, consequentemente «abrange uma área mais alargada», como o «Baixo Alentejo», esclarece José Paulo Nunes.

Para o dirigente associativo, «o medronho de Monchique ficará sempre defendido, uma vez que poderá ser indicada a origem do produto e do produtor». Além disso, «antes de se falar de Monchique, fala-se do Algarve», pelo que a «promoção que seja feita ao Algarve leva sempre Monchique consigo». Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique partilha da mesma opinião afirmando que a IGP «não é problema, antes pelo contrário, até pode ser uma forma do medronho do Algarve e por inerência, o medronho de Monchique, conseguir associar-se ao nome da região que é mundialmente conhecido», podendo «trazer um maior número de vendas». Também a Assembleia Municipal de Monchique, reunida a 30 de junho de 2015 aprovou uma moção deliberando a «sua corroboração relativa ao Pedido de Registo de Medronho do Algarve como IGP», solicitando «ao Ministério da Agricultura e do Mar a aprovação».

José Paulo Nunes, admite que a classificação pelas normas da IGP vai permitir «gerar um nicho de produtores que se preocupam com a qualidade», mas «nada obriga a que os produtores o façam, pois é uma adesão voluntária». No entanto, «pode ser um fator gerador de maior procura e melhor rendimento» já que há consumidores «que preferem a qualidade ao preço».

Todavia, Rui André previne que «estamos a passar por um momento chave e que o medronho precisa de redefinir o seu caminho», apesar do «nosso ter especificidades muito próprias, a verdade é que não podemos ficar parados».

«Começam a aparecer grandes produções de medronho aqui à volta e, obviamente, não há qualquer receio em termos de qualidade, porque o medronho de Monchique é de topo a nível nacional, no entanto, pode começar a surgir outros a preços muito mais baixos, e temos de conseguir, de alguma maneira, chegar a mercados de excelência», acrescenta o autarca.

«Só através da discussão com os produtores», com a comunidade local e com entidades responsáveis pela produção de aguardente de medronho é que podemos decidir «o que é que queremos para o futuro do nosso medronho» e, isso é o que pretende ser feito durante a realização do Festival do Medronho.

Festival do Medronho: a discussão do presente, pensando no futuro
O medronho vai estar em destaque de 20 a 22 de novembro com a realização do Festival de Medronho. É a primeira vez que este fruto, com todas as suas particularidades, aparece promovido sozinho. Em anos anteriores este evento tem sido realizado juntamente com a Feira do Presunto.

Para José Paulo Nunes, presidente da APAGARBE «já desde o primeiro Festival do Medronho que vínhamos manifestando junto da autarquia que tínhamos escala suficiente para termos um evento que funcionasse só por si». Também Rui André, assume que já se justificava fazer um evento digno» somente destinado à promoção do medronho, já que é «um produto com grande qualidade» e que «no final de contas é uma espécie de bandeira do concelho». Esta edição é uma organização «tri-partida entre o município, a APAGARBE e a Confraria do Medronho ‘Os Monchiqueiros’» oferecendo a possibilidade de «dar a conhecer outras potencialidades que este fruto tem, que não sejam só a aguardente».

Assim, durante os três dias, Monchique vai receber um congresso, tertúlias, debates, show-cookings, concursos de cocktails, uma rota das destilas e muito mais.

No certame, montado propositadamente para o efeito no Heliporto Municipal, e onde se vão realizar todas as atividades, cerca de duas dezenas de produtores de aguardente de medronho vão estar presentes e mostrar o seu produto.

Para o presidente da Câmara Municipal de Monchique, este Festival vai ser marcado por momentos «importantes para os produtores» pois estão convidadas pessoas e entidades ligadas à área do medronho, de Coimbra, Aveiro, Lisboa e Algarve, para promover e proporcionar troca de experiências, debate e conversas informais, «pois queremos que o nosso medronho tenha futuro». Estes momentos de discussão vão realizar-se durante todo o evento, especialmente nas manhãs de sábado e domingo e na sexta-feira, dia marcado pelo congresso «O Medronho», que decorre entre as 09h00 e as 17h30, seguindo-se a inauguração oficial do certame às 18h00.

As demonstrações e degustações de culinária são da responsabilidade da Associação de Cozinheiros e Pasteleiros do Algarve e vão decorrer no espaço da copa/bar, assim como um concurso de cocktails que se realiza no sábado à tarde. No domingo haverá lugar para a Rota das Destilas, atividade exterior à tenda do Festival e à tarde haverá um workshop de doces e compotas.

A entrada tem um custo de 3€ pelos três dias, com direito à prova de três aguardentes de medronho e cada participante terá direito a uma pulseira que permite a entrada no evento durante a sua realização.
«Por muito ou pouco que se faça, tudo o que seja para promover e divulgar um recurso importante», como o medronho, «terá sempre o mérito de estarmos a contribuir para um melhor aproveitamento das condições que a natureza nos oferece», permitindo, assim, «gerar mais riqueza, mais emprego e melhor ambiente», confessa José Paulo Nunes.

O Festival vai ser também marcado pelo lançamento de uma marca uniforme do medronho da Serra de Monchique que vai identificar as marcas produzidas no concelho.
Como «não é possível a alteração de todos os rótulos das marcas existentes, Rui André adianta «que vamos fazer um selo para que as pessoas possam associar ao rótulo existente para começarmos a uniformizar». No entanto, assume que «não há condições, interesse e consenso dos produtores para que façamos uma marca única em Monchique». «Há, sim, condições», admite, para que «agregando todos se conseguir uma escala maior, existindo, sempre diferença entre as produções de forma a ganhar dimensão».

«Vai tentar-se com este selo, que tem um caderno com as regras para a sua inclusão nas garrafas, que haja um símbolo que distinga a aguardente de Monchique das outras».
Durante o Festival vai ser ainda lançado, juntamente com o selo, um site e aplicações de telemóvel e tablet para divulgação do produto do concelho.

Casa do Medronho, «uma mais-valia para o concelho»
O dia 31 de outubro de 2015 fica marcado pela inauguração da Casa do Medronho, em Marmelete. Um local de passagem, paragem e viragem no panorama da produção de aguardente de medronho no concelho de Monchique.

A Casa do Medronho é um espaço de cultura, de conhecimento e vivência daquilo que são as destilarias de medronho que caracterizam a serra de Monchique. Para além da casa em taipa, são mostrados, através de visitas programadas, os utensílios usados na arte de fazer a aguardente e parte do processo que envolve a produção.

Para Rui André, este projeto, por um lado, é «uma mais-valia para o concelho em termos de espaço museológico associado a um produto de excelência» e, por outro, «vem criar numa freguesia rural, como Marmelete, com perca de população, um elemento chave para atrair turismo, criando uma dinâmica que vai convidar as pessoas a participar nos vários processos do fabrico da aguardente», sendo «de facto, um bom aproveitamento do recurso que é o medronho». Por isso, «a Freguesia de Marmelete está de parabéns», conclui.

Esta nova infraestrutura no concelho tem ainda à disposição um alambique comunitário que pode ser utilizado por pessoas que, apesar de não legalizadas, gostem de produzir a sua aguardente.
Paralelamente, e tendo como ponto de partida a Casa do Medronho, o visitante pode fazer um itinerário pelas destilarias aderentes licenciadas ou inscrever-se em workshops que dão a conhecer, desde a apanha até à destilação da aguardente.

A Casa do Medronho é um projeto da Junta de Freguesia de Marmelete (JFM), financiado em 50% por fundos europeus, sendo os outros 50% da responsabilidade do Município de Monchique e da JFM.r

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