Lentes de contacto inovadoras travam a miopia das crianças
Uma equipa internacional, que inclui o Centro de Física da Universidade do Minho, conseguiu reduzir em 59% a progressão da miopia em crianças dos 8 aos 12 anos. O ensaio clínico com uma nova lente de contacto decorreu desde 2012 e envolveu ainda as universidades de Aston (Reino Unido), de Waterloo (Canadá) e o Hospital Universitário de Singapura. O trabalho traz benefícios claros para a saúde pública, porque é na infância que os valores da miopia mais agravam, podendo disparar na fase adulta a probabilidade de problemas severos de visão.
A miopia consiste em ver mal ao longe e deve-se ao crescimento excessivo do olho. Por cada milímetro que este aumenta, ganha-se três dioptrias de miopia. A equipa internacional mostrou que, após três anos, as crianças com as lentes de contacto especiais tiveram 0.5 milímetros de crescimento ocular, isto é, menos de metade face às outras crianças do estudo. “É possível atrasar o crescimento do olho humano com dispositivos óticos”, diz José González-Méijome, diretor do Laboratório de Investigação em Optometria Clínica e Experimental (CEORLab) do Centro de Física da UMinho, que trata esta linha de estudo precursora há 15 anos. Estas lentes de contacto “distinguem-se pela distribuição específica da potência, o seu desenho ótico, que vai alterar a imagem que se forma na retina, estimulando menos o crescimento do olho”, vinca.
A miopia em menores de 10 anos costuma alcançar valores elevados na idade adulta e pode levar a doenças da retina e nervo ótico, como glaucoma, desprendimento da retina, mácula e mesmo a cegueira. A probabilidade de ter estas doenças é dez vezes maior em míopes com mais de três dioptrias e até cem vezes maior para aqueles com cinco ou mais dioptrias. Esta anomalia visual tornou-se uma pandemia em diversas partes do mundo. Prevê-se que em 2050 mais de 50% da população mundial tenha este defeito ocular, 10% da qual com miopia alta.
Projeto pioneiro
Esta área é de uma importância extrema a nível social e científico. O CEORLab tem em curso vários estudos epidemiológicos, ensaios e parcerias. Por exemplo, concluiu recentemente que a miopia afeta um terço dos que ingressaram no ensino superior de 2015 a 2017, com base numa amostra a 2000 jovens da UMinho. Essa proporção quase duplicou nos últimos 15 anos. A equipa liga também a investigação às neurociências, entendendo melhor os processos de crescimento e controlo do globo ocular e os mecanismos de ação destes e outros tratamentos, para desenvolver dispositivos mais eficazes. A UMinho é a única instituição em Portugal e das raras da Europa com formação de licenciatura, mestrado, doutoramento e ensino a distância em Optometria e Ciências da Visão, em particular na área da miopia.
José González-Méijome, Optometrista Internacional do Ano 2016, refere que todas as crianças devem realizar consultas de Optometria e Oftalmologia antes dos 6 anos e avaliações visuais periódicas desde essa idade. Já os pais e professores devem estar “especialmente atentos” para possíveis dificuldades de visão em casa e na sala de aula. Os filhos de pais míopes ou que passam pouco tempo em atividades ao ar livre podem ter um maior risco de aparecimento e desenvolvimento da miopia, realça o professor catedrático da Escola de Ciências da UMinho.
Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem – Universidade do Minho
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