Lagos inaugura núcleo museológico rota da escravatura
O Núcleo Museológico Rota da Escravatura, instalado no edifício da Vedoria / Alfândega, situado na Praça do Infante, foi inaugurado no dia 6 de junho, numa cerimónia que contou com a presença do Ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes.
Este novo espaço, que surge no edifício também conhecido por Mercado dos Escravos, resulta de um protocolo de colaboração estabelecido em 2010 e posteriormente em 2012 entre a Câmara Municipal de Lagos (CML) e o Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento do ISEG, com o objetivo de criar, «com a colaboração do Comité Português da UNESCO do projeto Rota do Escravo, um museu ou centro interpretativo do tráfico de escravos e um memorial de homenagem a criar no local onde se deu essa descoberta», explica a CML em nota de imprensa. Na mesma altura também o Exército Português tinha cedido à edilidade «os 2 espaços deste edifício militar onde a exposição se haveria de desenvolver», acrescenta.
De acordo com a mesma nota, a constituição de um Núcleo Rota da Escravatura do Museu de Lagos «parte da memória e do conhecimento produzido sobre o comércio dos escravos em Lagos e a sua presença na cidade entre a primeira metade do século XV e os meados do século XIX, nomeadamente a partir da descoberta arqueológica do Vale da Gafaria em 2009, que viria confirmar as fontes escritas e a memória oral», transmitindo ideias e conceitos que facilitem a partilha da memória e do conhecimento científico com a comunidade».
Sobre aquele monumento de interesse público que desempenhou ao longo dos séculos várias funções como vedoria e alfândega, Maria Joaquina Matos, presidente da CML, explica que «simbolicamente, desde há muito tempo o mesmo está associado ao comércio de escravos da época dos Descobrimentos», considerando aquele o espaço mais indicado «para instalar este novo equipamento museológico.»
Para além disso, «dada a temática em causa, era também obrigatório associar a este núcleo a colaboração do projeto Rota do Escravo da UNESCO, que pretende contribuir a nível internacional para o conhecimento do problema da escravatura e do tráfico de escravos», tornado possível a criação de «um plano moderno e ambicioso, mas simultaneamente rigoroso e contido», acrescenta a edil lacobrigense. No entender de Maria Joaquina Matos «este foi o primeiro passo de uma longa caminhada de responsabilidade histórica que não termina aqui», pois «pretendemos dar continuidade ao aprofundamento desta temática, dinamizando e estabelecendo pontes de diálogo com outras comunidades unidas por este legado histórico».
Na cerimónia de inauguração do passado dia 6, Luís Filipe de Castro Mendes, que acompanhou o projeto desde o início ainda na condição de embaixador, mostrou a sua satisfação por estar presente «num momento tão importante para as nossas memórias históricas, que ainda que não sejam todas muito felizes, são reais». O ministro da cultura aproveitou a oportunidade para referir que «o tráfico de escravos foi condenável, mas faz parte da nossa história, e o facto deste núcleo retratar essa parte menos feliz da história do país é também muito importante», reforçando a influência da abertura do equipamento «no sentido em que muitos visitantes nacionais e estrangeiros não vêm só à procura do sol e praia, mas também do nosso património e história».
O Mercado de Escravos representou um investimento global de 426.287,93€, dos quais 237.148,92€ foram financiados pelo Programa Operacional (PO) Algarve 21 a 65% e o resto com fundos próprios do município.
Na inauguração do núcleo museológico estiveram ainda presentes Alexandra Gonçalves, diretora regional de cultura do Algarve, António Carvalho, diretor do Museu Nacional de Arqueologia, representantes do Chefe de Estado-Maior do Exército e do Centro de Estudos de África, Ásia e América Latina do ISEG, presidente e deputados da Assembleia Municipal de Lagos, vários autarcas e todos os responsáveis envolvidos no projeto.
Estrutura do Núcleo Museológico Rota da Escravatura
O novo espaço museológico da cidade de Lagos é constituído por um ponto de receção de visitantes e de divulgação dos principais pontos de interesse do itinerário «Lagos na Rota da Escravatura», instalado no piso 0.
No primeiro andar está montada uma exposição que, segundo a CML, «aborda o tema da escravatura na história da cidade e corresponde à crescente visibilidade que o seu debate, associado ao dos direitos humano e do racismo, tem adquirido no plano internacional». Nessa mostra vão ser abordados vários aspetos, desde a realidade africana entre os séculos XV e XVI, o comércio negreiro a partir da década de 40 do século XV, a evolução urbanística de Lagos nos séculos XV e XVI e a escravização dos africanos até ao século XIX, como fio condutor do itinerário da escravatura que levará o visitante pelo mercado dos escravos, pelos lugares urbanos da «novidade» africana e pela integração dos escravos na sociedade algarvia.
O museu, que estará aberto ao público de terça a domingo, entre as 10h00 e as 12h30 e as 14h00 e as 17h30, terá uma tarifa normal de 3€ e uma tarifa reduzida de 1,50€ para grupos turísticos, jovens entre os 12 e os 18 anos, portadores de cartão jovem e cidadãos com idade igual ou superior a 65 anos. Os grupos escolares, trabalhadores da CML, residentes em Lagos, quando devidamente identificados, e menores de 12 anos terão entrada gratuita. Até dia 12 de junho, as entradas serão livres a todo o público em geral.
A CML oferece a possibilidade de serem adquiridos vários bilhete conjunto, que dão a cesso a mais do que um equipamento museológico, sendo os ingressos cobrados pelos seguintes valores:
-
Museu + Núcleo Museológico Rota da Escravatura – 5,00€
-
Museu + Núcleo Museológico Forte da Ponta da Bandeira – 4,00€
-
Museu + Núcleo Museológico Rota da Escravatura + Núcleo Museológico Forte da Ponta da Bandeira – 6,00€
-
Núcleo Museológico Rota da Escravatura + Núcleo Museológico Forte da Ponta da Bandeira – 4,00€
Para mais informações: museu@cm-lagos.pt; ou T. 282 771 724.