Opinião

Genesis (I)

Os Genesis na sua formação clássica; da esquerda para a direita, Tony Banks (teclados), Michael Rutherford (guitarras), Peter Gabriel (voz, flauta e percussão), Steve Hackett (guitarra) e Phil Collins (bat.). Embora os Genesis tivessem gravado o primeiro disco para a DECCA Records, viriam a ficar associados à etiqueta The Famous Charisma Label, de Tony Stratton-Smith, que fora fundada em 1969.
Os Genesis na sua formação clássica; da esquerda para a direita, Tony Banks (teclados), Michael Rutherford (guitarras), Peter Gabriel (voz, flauta e percussão), Steve Hackett (guitarra) e Phil Collins (bat.).
Embora os Genesis tivessem gravado o primeiro disco para a DECCA Records, viriam a ficar associados à etiqueta The Famous Charisma Label, de Tony Stratton-Smith, que fora fundada em 1969.

Genesis (o início)
O meu primeiro texto publicado, num suplemento do Jornal Hoje, que hoje deve estar perdido num sótão qualquer, daqueles que habitamos temporariamente e onde repousam as nossas memórias mais remotas. Assim foi, para mim, com esse texto inaugural, publicado num jornal nacional, em 1980, com o qual obtive um bilhete para assistir ao vivo no Pavilhão do Dramático de Cascais ao concerto de Peter Gabriel, a solo, após a sua saída dos Genesis.

Neste Jornal de Monchique, 37 anos volvidos, partilharei esses primeiros passos, também no que se refere à escrita, e como eles me fizeram subir do sul (de Portimão) até Lisboa, e como essa viagem se fez musical e literária, apesar desse texto repousar na memória profunda de uma qualquer água-furtada, este é um texto de revisitação ou reescrita do texto inicial.

Nos anos sessenta do sec. XX assistiu-se a um boom, no que se refere à música popular, tanto em Inglaterra, com bandas como os Animals, Beatles, Rolling Stones, Kinks, Pink Floyd, Who, Moody Blues, Soft Machine, Van der Graaf Generator, como nos EUA com os Byrds, Beach Boys, entre outros. Em Portugal nesta altura apareciam o Quarteto 1111, os Sheiks, Petrus Castrus (já no início dos anos setenta).

A escola Charterhouse, localizada em Surrey, Londres, fundada em 1611, serviu de incubadora de uma série de bandas emergentes em Londres. Os Genesis emergem de duas bandas, a banda Anon (abreviatura de anonymus), constituída por Richard Mcphail (voz), Anthony Philips (guitarra), Rob Tyrell (bat.) e Rivers Jobe (baixo) e os Garden Wall, constituída por Peter Gabriel (voz), Tony Banks (teclados) e Chris Stewart (bat.). Estas bandas de teenagers eram na sua maioria influenciadas pelas bandas já reconhecidas como os Beatles ou os Rolling Stones, e tocavam versões daquelas.

Período 1969 – 1971
O disco inaugural da banda viria a ser editado em 1969, pela etiqueta DECCA, intitulado From Genesis to revelation, acabou por ser um desapontamento comercial, mas não musical, com um som típico das bandas dos anos 60, em especial neste trabalho com um som reconhecível ao dos Moody Blues (com melodias e coros de fundo e a bateria num contínuo rufar) tal como em On The Threshold of A Dream ou em To Our children’s children’s children, os dois desse mesmo ano de 1969. Em termos musicais destacam-se temas como In the wilderness e The Silent Sun. O disco nunca teve uma aceitação completa por parte da banda, situação que motivou a mudança de editora discográfica.

paulo3O segundo disco Trespass, editado em Outubro de 1970, marca o início de um som mais definido, referenciado como Rock progressivo (Progressive Rock ou na sua forma abreviada Prog Rock), com temas White Mountain, ou The Knife, onde as teclas de Tony Banks, e a guitarra de Steve Hackett começam a estabelecer um som reconhecível, este disco é superiormente concebido, em especial ao nível das composições musicais, mas também ao nível da capa, em que um punhal parece trespassar a matéria musical. Esta ideia de corte, era também um corte com o passado em que o Rock’n Roll dava lugar a um discurso de progressão musical, mais próximo da erudição sinfónica que das formas mais pop do Rock mainstream.
Se o triângulo Hackett/Banks/Collins sustenta a secção rítmica do grupo é Gabriel (letras, voz, flauta transversal, percussão), com o seu carisma e teatralidade (especialmente nas apresentações ao vivo), colocado em palco numa posição central, a figura que assume o comando, transfigurando-se em cada espectáculo, ele é o vocalista-actor.

Em 1971 é lançado Nursery Crime, que ao abrir com The Musical Box, estabelece-o instantaneamente como um clássico inultrapassável, mas onde pontificam outros temas, tais como The Battle of The Giant Ogweed (juntamente com The Musical Box, um dos temas mais extensos do disco), e The Fountain of Salmacis, que se constituem igualmente em peças maiores do repertório genesíaco.

É precisamente nos temas mais longos que é exposta a ideia musical da progressão, onde são desenvolvidas extensivamente todas as ideias musicais em profundidade.

Esta caixa musical estabelecia já o traço reconhecível de uma banda maior, como se fosse uma caixa musical emanando da fundura das memórias da nossa infância:
Play my song
Here it comes again and again
(…)

Apenas o preâmbulo para um galope alucinado entre guitarras, teclas e bateria, por onde irrompia voz de Gabriel, em completo comando.

(continua no próximo número)

(Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico)

Legenda foto de destaque: Charterhouse School, em Surrey, Londres.
A partir de 1966-67, e com o fim das bandas Anon e Garden Wall, dá-se a reunião da formação clássica dos Genesis, constituída por Peter Gabriel, Mike Rutherford, Tony Banks, Steve Hackett e Phil Collins, logo a partir de 1971, com a gravação de Nursery Cryme. 

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