Estudo conclui que dispersão de sementes na recuperação das florestas ardidas podem custar mais de 23 milhões de euros por ano
Um estudo liderado por investigadores do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia das Universidade de Coimbra (FCTUC) concluiu que os serviços de dispersão de sementes na recuperação das florestas ardidas podem custar mais de 23 milhões de euros por ano.
O artigo científico “What is the value of biotic seed dispersal in post-fire forest regeneration?”, agora publicado na revista Conservation Letters, mostra o trabalho que está a ser desenvolvido no âmbito do projeto “Life After Fire”, que surgiu na sequência dos incêndios de 2017, em Portugal, e que tem como principal objetivo estudar a importância da dispersão de sementes na recuperação das florestas após um incêndio.
“Com este estudo concluímos, além do valor económico dos serviços de dispersão de sementes, que apesar da esmagadora maioria das espécies não depender exclusivamente da dispersão de sementes por animais, para cerca de um terço dessas plantas a dispersão é uma forma de voltarem a colonizar estas zonas ardidas”, revela Sérgio Timóteo, investigador do DCV e líder do projeto, citado em nota de imprensa pela FCTUC.
Segundo o artigo científico, a maioria das espécies possui múltiplas estratégias para enfrentarem o fogo, incluindo duas dezenas de espécies que possuem todas as estratégias, nomeadamente germinação a partir do banco de sementes após o incêndio florestal (78%), capacidade de rebrote (54%), adaptações bióticas (35%) ou abióticas (28%) de dispersão de sementes. Embora apenas oito espécies sejam exclusivamente dependentes da dispersão biótica, 166 espécies (cerca de um terço das avaliadas) possuem características que facilitam a dispersão animal. Assim, a importância relativa da dispersão biótica é estimada em 16%.
De acordo com o investigador da FCTUC, quando ocorrem incêndios florestais de grandes dimensões, como os de 2017, “é necessário fazer algum tipo de intervenções em algumas áreas, principalmente no que se refere à estabilização de solos, às vezes até evitar recolonização por espécies invasoras. Isto tudo são ações ativas, ou seja, implicam ações humanas”. Timóteo ressalva ainda que os animais e própria natureza têm também um papel muito importante nessa recuperação.
Combinando assim “os custos orçamentados dos Relatórios de Estabilização de Emergência governamentais com análises de redes que estimam a dependência da flora portuguesa da dispersão biótica de sementes e de estratégias alternativas de regeneração pós-fogo”, os investigadores concluíram que “a substituição dos serviços prestados pelos dispersores de sementes durante a regeneração pós-incêndio das florestas portuguesas custaria mais de 23 milhões de euros por ano”.
O artigo científico, da autoria de José Benedicto Royuela, José Miguel Costa, Ruben Heleno, Joaquim Sande Silva, Helena Freitas, Pedro Brito Lopes, Sara Beatriz Mendes e Sérgio Timóteo, pode ser consultado aqui.