É tempo de tomar as rédeas da sua própria vida
Trata-se de um livro muito singular escrito por Jacques Attali, prolífico escritor, autor de inúmeras obras sobre temas diversos, incluindo sociologia e economia, mas também romances, biografias e até mesmo livros infantis. Intitula-se “Decida a sua vida!”, Bertrand Editora, 2015.
Não é propriamente uma obra de desenvolvimento pessoal, comporta uma incursão ao mundo em que vivemos, desvela uma galeria de não resignados que marcam a diferença na civilização e cultura mundiais, exprime a ideia de que está em marcha um Renascimento e estabelece um conjunto de 5 etapas para que cada um de nós se saiba encontrar.
Vivemos num mundo perigoso, onde a violência é imprevisível, onde se reacendem as guerras religiosas, onde o emprego escasseia, e onde progridem as desigualdades entre alguns ricos e um número imenso de pobres. Neste cenário, e talvez cansado de não conseguir fazer passar a mensagem a quem governa os Estados, vem dizer que cada um de nós deve apostar na tomada do poder sobre a sua própria vida. O pano de fundo em que nos movemos não é risonho, desde o Próximo Oriente até à África subsariana. A demografia vai pregar-nos partidas. Por exemplo, a população da Nigéria quintuplicará até ao fim do século, haverá crescimentos surpreendentes nas populações da República Democrática do Congo, do Níger, da Tanzânia, da Etiópia e do Uganda, isto enquanto a população da maior parte dos países europeus vai diminuir. Já não se olha para o progresso técnico com o entusiasmo de outrora: um número incalculável de máquinas robotizadas suprimirá um número incalculável de empregos; a internet das coisas e a informação massificada (big data) permitirão que os poderes públicos e privados vigiem e controlem a vida de cada um com uma proximidade cada vez maior. E também o progresso técnico não providenciará meios para impedir a proliferação das armas nem tão-pouco ajudará a conter a subida da temperatura média do globo em três graus até ao final do século.
Mergulhámos nas dívidas públicas, o Estado revela-se impotente frente aos reptos do futuro, o caos já não é só apanágio da Somália, do Chade, do Congo, ninguém sabe o que vai acontecer à Síria nem à delinquência no México. O separatismo está na moda, as economias legais e criminosas passaram a ter um peso cada vez maior sobre a vida dos homens. Somos igualmente uns “resignados exigentes”, reclamamos mis segurança ao Estado, exigimos os melhores serviços ao mais baixo custo, envolvemo-nos em tais e tantas contradições a ponto de que as próximas gerações recusam ser solidárias com os adultos de hoje.
Para Attali, estamos a assistir a ténues sinais de um novo Renascimento: iremos erradicar doenças, a aprendizagem poderá tornar-se cada vez mais democrática e lúdica, os transportes poderão tornar-se bastante mais inteligentes, todos os novos imóveis poderão produzir mais energia do que a consumida. São amplos os prognósticos otimistas.
Vem da noite dos tempos um vasto elenco daqueles que decidem assumir o controlo sobre a sua vida, agindo como se nada lhes fosse impossível e Jacques Attali enumera artistas, empreendedores, militantes, pensadores, religiosos. Este rol de criadores, muitos deles a terem em conta o interesse das próximas gerações são figuras exemplares e que contribuem para que outros escolham a sua vida, se encontrem, como o autor escreve: “Mostram que é possível escapar a uma vida aparentemente traçada na integralidade”. Confronta as mensagens religiosas com as aspirações do homem moderno pronto a moldar o seu destino e estabelece as 5 etapas para assumirmos o controlo das nossas vidas: tomarmos consciência dos constrangimentos inerentes à condição humana; respeitar-se e fazer-se respeitar; não esperar nada dos outros; tomar consciência da sua unicidade; encontrar-se a si mesmo, escolher quem se é. É pois um outro Jacques Attali que nos dá um ecrã do mundo e que nos vem dizer que tem tentado, da melhor maneira possível, encontrar a felicidade fazendo-se útil para os outros e confessa que procura pôr em prática os conceitos que aqui oferece. Diga-se o que se disser, estamos perante um livro fora de série.
Autor: Beja Santos