Cidadania, ética e literacia debatidas no 30.º aniversário do Jornal de Monchique
A primeira iniciativa organizada pelo Grupo de Dinamização Cultural «O Monchiqueiro» para comemoração dos 30 anos do Jornal de Monchique uniu, provocou discussão e abriu horizontes sobre a cidadania, a ética, a liberdade de expressão e a literacia durante a tarde do passado sábado, dia 28 de novembro, no salão nobre do Crédito Agrícola de Monchique.
Numa sala composta, mas não completa, ouviu-se falar da trindade que envolve esta comemoração: o Jornal de Monchique, o Monchiqueiro-GDC e amar Monchique. Três razões que fazem com que este órgão de comunicação social continue a cumprir os seus também três objetivos: a formação, a informação e o criar espaço para a opinião.
Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, que presidiu à sessão de abertura do evento ladeado por José Manuel Furtado, presidente da direção de «O Monchiqueiro-GDC» e por José Gonçalo Duarte, diretor do Jornal de Monchique, admitiu que «a história recente confunde-se com a história do jornal», no entanto, apresentou o desafio às diversas redações algarvias para a criação de um «jornal diário do Algarve, através da junção de alguns já existentes», permitindo «às entidades públicas darem mais apoios» e proporcionando uma «maior propagação da informação».
O tema «A fortaleza da sociedade civil» serviu de rampa de lançamento para a Mesa-redonda «Imprensa Regional: contributos para a cidadania». Mónica Dias, monchiquense e professora no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica relembrou que «a escrita une as pessoas», explicando que «um jornal tem como função fiscalizar, denunciar e responsabilizar a população», sendo que «a liberdade depende da nossa coragem». Enfatizou ainda que a «alfabetização é uma consequência direta da imprensa» e que numa sociedade onde «os jornais estão ameaçados, a democracia também o estará».
No entanto, Paulo Martins, jornalista há mais de três décadas e professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, defende que «está nas mãos dos cidadãos exigir aos jornalistas a liberdade de expressão». São os profissionais da comunicação que no seio da região e de acordo com o órgão de comunicação social onde trabalham devem permanecer fiéis ao «plano ético-deontológico que os obriga» e à sua «consciência ética » que dever ser utilizada «em todas as circunstâncias onde age o jornalista». «A ética não conhece geografia», título da comunicação deste jornalista precisamente porque apesar do «jornalista regional não ter direito ao anonimato», a «lealdade e a atitude honesta e transparente» deve refletir-se em qualquer trabalho publicado.
É a estes trabalhos publicados na imprensa regional que os cidadãos devem «ir beber, de forma a melhorarem a sua literacia e a compreenderem o que se passa a nível nacional». Sendo que a «literacia começa em casa» e que «as sociedades modernas são caracterizadas por sociedades do espetáculo», corre-se «sérios riscos de se tornarem sociedades sem memória se não souberem identificar, interpretar, contextualizar, preservar e recuperar as principais caracteristicas da sua identidade cultural» e é aí que têm um papel determinante os jornais regionais. Foi com estes e outros «Contributos da comunicação social regional para uma literacia dos media aprofundada e um cidadania activa» que Vítor Reia-Baptista, professor na Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve elucidou os presentes sobre o importante papel da literacia nos dias de hoje.
O debate foi moderado por Hélder Nunes, jornalista e ex-diretor do «barlavento», para quem «não há jornais nacionais, há jornais de distribuição nacional».
Durante a cerimónia, Helena Martiniano e Eduardo Duarte, presidente e secretário da Junta de Freguesia de Monchique ofereceram ao Jornal de Monchique, uma placa comemorativa do 30.º aniversário.
Até ao final do mês de dezembro vão surgir mais atividades comemorativas do aniversário do Jornal de Monchique, nomeadamente uma exposição fotográfica que retrata estes 30 anos na história local, na Galeria de Santo António.