CulturaDestaque

As antigas Atalaias ou Torres de Vigia e a sua importância na defesa do Reino do Algarve. O Caso de Monchique (II)

Segundo o capitão Baltazar de Azevedo Coutinho, do Real Corpo de Engenheiros, no ano de 1798 havia ainda 43 fortalezas, fortes, redutos e baterias, que inseriu na sua obra Fortificações do Algarve, datada de 1798.

O alerta contra os invasores – turcos, marroquinos, ingleses, franceses, holandeses e outros – era dada, como se disse atrás, pelos facheiros ou atalaias, através de fogo, luzes, fumo, sinais sonoros ou tiros de arcabuz, que alertavam as tropas de Ordenanças, organizadas com o seu cabo de esquadra, por meio da proximidade residencial.

João Baptista da Silva Lopes informa-nos que nos portos de mar vigiavam os moradores, que pagavam por avença.

O saque dos sarracenos era sobretudo em figos, amêndoas, vinho e outros produtos da terra, mas também em bens e em cativos, destinando-se estes a serem vendidos como escravos nas praças africanas, ou a obter resgates através dos alfaqueques, ou dos intermediários judeus.

O padre José Gonçalves Vieira lembra que os batéis de mouros que desembarcavam nas praias e enseadas e se aventuravam pelo campo para assaltar as quintas e aldeias mais dispersas e vulneráveis faziam com que «os algarvios dormiam com as suas armas para acudirem ao primeiro rebate (…)», enquanto os ricos se acastelavam nas suas quintas, protegidas com as suas torres de vigia.

Com o tempo, o rei tinha posto ao serviço alguns navios para patrulhar a costa algarvia, como era o caso das cinco galés comandadas por D. Fernando Álvares de Noronha, que em 1569 desbarataram uma galé de mouros, em que vinham alguns portugueses cativos.

Vê-se que os atalaias ou atalaieiros eram indivíduos considerados, pois a João Vaz, atalaia da Torralta (Lagos), foi dada Carta de confirmação de aforamento de um chão em Lagos, que foi registada em Carta de Fernão Vieira, Cavalheiro da Casa Real e Escrivão da Fazenda e Contos de sua Majestade no Reino do Algarve e Provedor e Contador nele, na ausência de Diogo de Barros, feita em Faro, 5 de Fevereiro de 1497.

Por vezes havia atalaias que ficavam cativos, como foi ocaso de Álvaro Mendes, cativo em Fez cerca de 1500, que redigiu uma relação do conflito entre o rei desta cidade e o xarife.

Dos topónimos que ficaram temos, entre outros: a Ponta da Atalaia (Sagres), a Quinta da Atalaia (Lagos), Atalaia (Loulé), Atalaia (Alte) e Atalaia ou Torre de Bia (Faro/Olhão).

Das torres-atalaia, restam-nos, entre outras: a Torre do Marim, a Torre de Quartim, as torres do concelho de Lagoa (Torre da Lapa e Torre da Marinha) e o sítio da Torre (Silves).

O topónimo “Facho” também existe nalguns pontos do distrito, nomadamente em Alvor e Albufeira.

As Atalaias  de Monchique

No interior serrano também havia atalaias, como era o caso de Monchique e de Silves. Delas temos sobretudo notícia das que existiram nos arredores da aldeia de Alferce.

O “Cerro da Vigia”, situado nas imediações desta freguesia de Monchique é um topónimo que lembra esse tempo das vigias contra os assaltantes que desembarcavam no litoral. Neste local foram postas a descoberto umas «sepulturas romanas», associadas ao castro proto-histórico aí existente, hoje conhecido por Castelo do Alferce, uma construção que terá sido reocupada por estes invasores e depois também utilizada como atalaia.

Nesta freguesia de Monchique ainda existiam, há cerca de 50 anos, os vestígios de uma atalaia em cantaria, que não seria a construção atrás citada. Dela provavelmente ainda restará alguns vestígios, que bem podiam ser aproveitados para fins turísticos e culturais.
A certificar a presença destas torres temos uma informação vinda de João Baptista da Silva Lopes (1841), que diz que em Monchique (à semelhança de Silves), se pagava um tributo chamado das Vigias, que era cobrado por avença das Ordenanças de cavalo, arrecadando-o o capitão-mor, que o enviava ao provedor das comarcas. Importava em 4500 réis e vinha do tempo em que havia na costa as torres de vigia para avisar dos baixéis de mouros.

Vê-se por esta informação, que havia no concelho algumas torres de vigia, que não seriam todas baluartes naturais.

Na actualidade ainda se detecta em Monchique o topónimo Torrinha (limite entre este concelho e o concelho de Portimão), que poderá remeter para uma antiga torre de vigia.

Existem ainda, ou existiram também, os topónimos Castelo (o ponto mais alto da vila), Castelo da Nave, Castelo (Casais) e Castelo do Linho.
Fontes e Bibliografia
Antigo Testamento, Ezequiel 33:6.
CALIXTO, Carlos, Castelos e Fortificações Marítimas do Concelho de Lagoa, Algarve em Foco Editora, 1991.
CARVALHO, Augusto da Silva, Memórias das Caldas de Monchique, 1939
COUTINHO, Balthazar de Azevedo, Fortificações do Algarve, 1798.
Duas Descrições do Algarve do Séc. XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães, Cadernos da Revista de História Económica e Social (3), Sá da Costa, 1983.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.3, p.621, «Atalaia».
História de Portugal, vol. II, dir. Damião Peres, Barcelos, 1929.
LOPES, João Baptista da Silva, Corografia do Reino do Algarve (…), Lisboa, 1841. Reedição fac-similada, Algarve em Foco Editora, Faro, 1988).
LOUREIRO, Francisco de Sales, Uma Jornada ao Alentejo e Algarve, Livros Horizonte, 1984.
MAGALHÃES, Joaquim Romero, O Algarve Económico durante o Século XVI, 1970.
MASSAII, Alexandre, “Descrição do Reino do Algarve” (1621), in Lívio da Costa Guedes, Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII. A «Descrição» de Alexandre Massaii (1621), separata do Boletim do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1988.
SAMPAIO, José Rosa, Os Cavalos do Reino do Algarve: almargens e coudelarias, 2.ª ed., Portimão, 2017.
– De Morabitos a Ermidas Antigos Espaços de Culto e Afirmação de Poder das Oligarquias do Algarve: o Caso de Monchique, 2018, 12p (1.5E).
– Apontamento Histórico sobre os Coutos de Hominizados do Reino do Algarve (Séculos XV-XVII), 2.ª ed., Portimão, 2018, 16p (2E).
– As Antigas Alcarias do Algarve: um Legado da Ocupação Muçulmana. O Caso de Monchique, 2018.
– Resenha Histórica da Freguesia de Alvor, 2014.
– A Antiga Pesca ou Caça à Baleia no Algarve, nos Séculos XII-XVII, 2018.
– De São Lourenço da Barrosa a Vila Nova de Portimão (Séculos XV-XVI), 2.ª ed., Portimão, 2013;
– Vila Nova de Portimão nos Séculos XVII-XVIII. Da Decadência Económica à Breve Elevação a Cidade e Sede de Bispado, Portimão, 2013;
– Portimão no Liberalismo e Constitucionalismo do Século XIX (1820-1910), Portimão, 2013.
SARRÃO, Henrique Fernandes Sarrão, “Historia do Reino do Algarve”, in Duas Descrições do Algarve do Séc. XVI.
S. JOSÉ, Frei João de, “Corografia do Reino do Algarve”, in Duas Descrições do Algarve do Séc. XVI.
TT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 89-90, n.º 109.
TT. Colecção de cartas, Núcleo Antigo 876, n.º 96.
TT. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 29, fl. 82v
VELOSO, João, Lagos: Notas da sua História, CE Gil Eanes, 1997.
VIEIRA, José Gonçalves, Memoria Monographica de Villa Nova de Portimão, 1911.

Share Button

Deixe um comentário