Agora, como há 30 anos
O ano de 1985 poderá ser recordado como um tempo de evolução. Surgiram os primeiros multibancos e o código de barras iniciado por 560. Falava-se apenas por telefone fixo e dizia-se adeus ao FMI que tinha aterrado por cá dois anos antes.
Tal como hoje, entrava-se no mês de outubro em clima de eleições. O sufrágio realizou-se no dia 6 e elegeu Aníbal Cavaco Silva, como primeiro ministro. Em junho do mesmo ano, Mário Soares assinou no Mosteiro dos Jerónimos a entrada de Portugal da CEE (atual UE), que surge, agora, como há 30 anos, como tábua de salvação e/ou como âncora de obediência. Depende da perspetiva. Talvez para aqueles que chegam seja tábua, para aqueles que estão, sirva de grilhão.
No panorama internacional lutava-se pelos direitos dos negros na África do Sul e Gorbatchev era eleito pelo PCUS, sendo o início do fim da URSS. Começava um período de esperança, de recuperação da guerra fria, de direitos e liberdade que fizeram com que o muro caísse passados quatro anos. Agora levantam-se muros, restringem-se fronteiras, recusa-se a liberdade e apregoa-se a solidariedade.
Agora são constituídos arguidos líderes de uma sociedade fragmentada, marcada pela corrupção e pela falta de confiança política, enquanto que a 7 de outubro de 1985 foi o terrorismo que foi a tribunal, pois começava o julgamento das FP-25, sendo dois réus defendidos pelo atual advogado de José Sócrates.
No panorama do desporto, em 1985, nasce o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo. Pinto da Costa vence o seu primeiro título de campeão nacional, três anos depois de ter sido eleito presidente. Ayrton Senna sobe pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio, num dia chuvoso que inundou o Autódromo do Estoril. Agora, como há 30 anos, continua-se a jogar futebol, mas com uma pequena diferença: em 1985, o dinamarquês Manniche foi o único jogador estrangeiro em 22 titulares na Taça de Portugal, enquanto que no jogo que se realizou a 14 de dezembro de 2014, no Estádio do Dragão, para o campeonato nacional, entre FC Porto e SL Benfica, André Almeida, foi o único português entre os titulares.
Na cultura, a televisão, em 1985, tinha dois canais e apresentava séries como Dallas, o Polvo e surgiu o Macgyver. Herman José e Carlos Cruz ocupam os portugueses com os seus programas. Na música, o concerto Live Aid e a canção «We are the world» marcavam a atualidade. Começa também a rivalidade entre António Lobo Antunes e José Saramago, agora, sabe-se que o primeiro escritor continua na expetativa do Nobel e que o segundo já o venceu, que Carlos Cruz deixou a televisão e que Herman José continua a fazer humor mantendo a sua essência, mas tendo rivais de peso e que a televisão tem canais infinitos, é interativa e dá para ver no presente o passado da semana anterior.
Foi no contexto do ano de 1985 que jovens monchiquenses pensaram o Jornal de Monchique, um órgão de comunicação social que iria surgir em dezembro. O sentimento era de algum receio, de serem aprisionados ainda pelas correntes que pairavam nos céus após décadas de censura, mas a cultura tinha de ser o bem mais precioso.
Agora, como há 30 anos, o Jornal de Monchique está a ser pensado, estruturado, criado. É uma obra que se foi modelando com o tempo, que se foi adaptando às diversas crises por que passou e que foi sobrevivendo, muitas vezes com uma respiração artificial, mas as atuais 385 edições são trinta anos de história, aqui e agora.
A partir de hoje o seu jornal vai intensificar a sua ação online. Criámos um site nosso, para as nossas necessidades e perspetivas, de forma a sermos, agora, como há 30 anos, jovens, dinâmicos, com vontade de nos projetar no futuro e de manter o lugar junto da imprensa regional e nacional.
No decorrer dos próximos meses «O Monchiqueiro – Grupo de Dinamização Cultural» vai organizar diversas atividades destinadas às comemorações dos 30 anos do Jornal de Monchique, como um seminário de discussão sobre o papel da imprensa regional nestes 30 anos, uma exposição com temas marcantes sobre Monchique durante estas três décadas e muito mais que irá sendo anunciado até final do ano.