A química dos pesticidas: efeitos e defeitos sobre a saúde e ambiente
A aplicação de pesticidas justifica-se pela garantia de uma maior produção de alimentos face ao aumento da população mundial e escassez de terras aráveis. Diversas entidades oficiais controlam os limites e condições desta aplicação: a Autoridade Europeia de Proteção às Culturas, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos e, em Portugal, a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária. Um dos parâmetros fiscalizados é o Limite Máximo de Resíduos encontrados nos alimentos, o que, em não conformidade, pode levar à retirada de um produto do mercado. Apesar de tudo, cerca de metade dos nossos alimentos contêm resíduos de pesticidas e 25% da nossa alimentação múltiplos resíduos de pesticidas.
Efeitos do uso de pesticidas
Apenas uma pequena parte da aplicação dos pesticidas tem um efeito direto nas culturas a tratar pelo que esta irá ter efeitos também:
– No solo e nos cursos de água: “os agrotóxicos podem ser degradados por vias químicas, biológica e/ou fotólise. Porém as moléculas com alta persistência podem permanecer no ambiente sem sofrer nenhuma alteração uma vez que podem ser sorvidas e/ou dessorvidas pelas partículas do solo, sofrer lixiviação e atingir os lençóis subterrâneos, ou ainda, serem levadas para águas superficiais através do escoamento.”(1)
– Na atmosfera: as moléculas podem ser transportadas para longas distâncias do local de aplicação, tendo já sido encontrados restos de pesticidas em amostras de ar e de água da chuva em locais distantes como os Pólos (Ártico e Antártida), no Monte Evereste, em lagos e altas montanhas.
Encontrando-se o homem no final da cadeia alimentar este acabará por receber uma quantidade maior de substâncias químicas acumuladas nesta. De acordo com estudos realizados, os agrotóxicos consumidos nos anos oitenta originaram distúrbios reprodutivos na década de noventa, cancro da mama e mortalidade por cancro do ovário e doenças coronárias devido à proximidade de zonas contaminadas por pesticidas.
A química dos pesticidas (2)
Entre os mais de mil e quinhentos princípios ativos disponíveis e trinta e cinco mil fórmulas, existem três tipos principais de pesticidas: os fungicidas, para destruir ou inibir a ação de fungos que atacam as plantas, sendo estes produtos muito tóxicos e perigosos com sérios riscos para o homem e ambiente; os herbicidas, utilizados para o controle de ervas daninhas com rápida acção e custos mínimos, mas são todos tóxicos para os seres humanos nalguma escala; por fim, os insecticidas, para eliminar insectos em geral, com ação sobre larvas e ovos principalmente. Este é o tipo mais comum de pesticida.
Podem ainda classificar-se em acaricidas (para o controle ácaros), bactericidas (para o controle de bactérias), nematicidas (para o controle de nematóides), raticidas (para o controle de ratos), formicidas (para controlar formigas), moluscicidas (para o controle de moluscos), algicida (para o controle de algas) (FERNANDO e DUARTE, 2011).
Origem dos pesticidas
Quanto à sua origem, os pesticidas orgânicos de síntese apresentam-se à base de produtos químicos somo sejam os carbamatos (nitrogenados), clorados, fosforados, e clorofosforados e constituem a maior classe de pesticidas utilizados, com maior atividade fisiológica. Neste grupo identificam-se também os de origem vegetal, que têm na sua base produtos químicos como a nicotina, piretrina, sabadina e rotenona. Já na classe dos inorgânicos, estes são na maioria extremamente tóxicos para os humanos e mamíferos, tendo em conta as dosagens necessárias para torná-los eficientes. São constituídos à base de arsénio, tálio, bário, nitrogénio, fósforo, cádmio, ferro, selénio, chumbo, cobre, mercúrio e zinco.
Estrutura dos pesticidas
Os produtos organoclorados possuem baixa solubilidade em água e elevada solubilidade em solventes orgânicos com lenta biodegradação, podendo ser transportados a longas distâncias (MARASCHIN, 2003; SÁ et al, 2012). Possuem efeitos bastante significativos no funcionamento do organismo animal, em particular sobre os sistemas neurológicos, interferindo nas transmissões dos impulsos nervosos, no sistema imunológico e endócrino.
Já os organofosforados, segundo Savoy (2011), são compostos derivados do ácido fosfórico, tiofosfórico ou ditiofosfórico, sendo utilizados como acaricidas, fungicidas, inseticidas e nematicidas. Nos mamíferos, os efeitos manifestam-se por lacrimejo, salivação, sudorese, diarreia, tremores e distúrbios cardiorrespiratórios. São perigosos para a saúde de quem aplica e de quem possa entrar em contato. A intoxicação pode ocorrer por exposição via inalação, ingestão ou absorção direta. Tal como os organoclorados, os organofosforados são lipossolúveis, porém decompõem-se dentro de dias ou semanas, e por esta razão raramente são encontrados na cadeia alimentar (MARASCHIN, 2003).
Outra classe é a dos carbamatos, compostos derivados do ácido carbâmico, introduzidos na década de 50 como inseticidas. Podem contaminar águas superficiais de forma direta ou indireta, por resíduos industriais ou derramamentos acidentais. Segundo Vilarinho (2011), o seu efeito tóxico atua no sistema nervoso interferindo nas transmissões dos impulsos nervosos.
As triazinas são compostos que fazem parte de uma classe de herbicidas, sendo amplamente utilizado no controle de ervas daninhas. São bastante tóxicas e persistentes no ambiente, principalmente em leitos de água e têm grande potencial carcinogénco para o homem, segundo as pesquisas de Patussi & Bündchen (2013).
Nível tóxico dos pesticidas
Quanto ao seu nível tóxico, os pesticidas podem classificar-se de acordo com as cores dos rótulos, definidas por lei:
Classe I: Rótulo Vermelho – São os compostos químicos extremamente tóxicos, de grande risco para a saúde humana e para o meio ambiente. Como exemplos, tem-se o grupo dos clorados, os clorofosforados. Classe II: Rótulo Amarelo – De toxicidade alta para os seres humanos. Tem os carbamatos como exemplos. Classe III: Rótulo Azul – são substâncias consideradas de toxicidade mediana para a saúde humana. Como exemplo, os organofosforados. Classe IV: Rótulo Verde – são os produtos pouco tóxicos para os seres humanos.
Face ao seu perigo para a saúde e ambiente, a Direção Geral de Veterinária e Alimentação acaba de colocar restrições no uso de alguns pesticidas com base nas seguintes substâncias ativas:
– Clorpirifos – inseticida organofosforado que atua por contacto, ingestão e fumigação. Para tratamento do solo e formulações para aplicação na parte aérea das plantas. Recomenda-se não contaminar as águas. Muito perigoso para abelhas; não aplicar na época de floração (form. EC). Muito perigoso para organismos aquáticos. Não aplicar em terrenos agrícolas adjacentes a cursos de água. Perigoso para aves (form. de MG).
– Tiametoxame – inseticida neonicotinoide sistémico que atua por contacto e ingestão. Recomenda-se não contaminar as águas, podendo causar efeitos nefastos a longo prazo no ambiente aquático. Para proteção dos organismos aquáticos não aplicar em terrenos adjacentes a águas de superfície. Perigoso para abelhas. Não aplicar durante a floração das culturas. Não aplicar na presença de infestantes em floração na parcela a tratar.
– Pirimicarbe – Carbamato. Insecticida específico (aficida) sistémico que actua por contacto, ingestão e fumigação. Recomenda-se não contaminar as águas. Perigoso para organismos aquáticos. Não aplicar em terrenos agrícolas adjacentes a cursos de água. Impedir o acesso de animais às áreas tratadas durante, pelo menos, 7 dias.
Fontes:
– Palma, Danielly; Lourencetti, Carolina (2011) – Agrotóxicos em águas e alimentos: risco à saúde humana, artigo publicado na Revista UNIARAa, v. 14, n.2, dezembro, Brasil.
– Adaptado com base no artigo “Pesticidas: Classificação, Propriedades, Toxicidade, Problemas e Soluções” inserto em www.webartigos.com/