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O que está a ser feito no concelho de Monchique para prevenir a covid-19?

O Jornal de Monchique falou com Rui André no passado dia 27 de março para dar a conhecer aos seus leitores o que está a ser feito e preparado em Monchique para conter o coronavírus covid-19. À data de fecho da edição o concelho ainda não tinha registado qualquer caso de infeção.

 

Jornal de Monchique – Que medidas estão a ser ou já foram implementadas no concelho para conter o Covid-19?
Rui André – Começámos por definir o nosso plano de contingência municipal em que colocámos um conjunto de ações no terreno. Basicamente foi a reorganização dos serviços. Para já, fizemos a redução do efetivo e a colocação de muitos trabalhadores em teletrabalho. Praticamente 90% está a trabalhar nesta modalidade ou em reserva, ou seja, estão em casa, mas se for necessário são chamados para vir trabalhar. Estamos praticamente com serviços mínimos. Temos a funcionar a tesouraria e contabilidade para continuarmos a fazer pagamentos aos nossos fornecedores e porque há coisas que não podem mesmo parar, temos prazos, pagamentos, prazos de projetos, coisas que temos de dar seguimento.

 

JM – Mas a Câmara está aberta ao público?
RA – Só o balcão de atendimento. Temos feito uma campanha para desincentivar as pessoas a virem pagar a água, por isso foi prolongado o prazo em 60 dias. Isto aplica-se às faturas da água, outras taxas e às mensalidades da creche e refeições escolares.

JM – Como foi efetuada a reorganização do pessoal depois do plano de contingência?
RA – Na recolha do lixo eram três equipas e passámos para duas, que fazem os três circuitos. Reforçámos a limpeza e desinfeção dos contentores e criámos, desde dia 21 de março, duas equipas que estão a fazer a limpeza e desinfeção em todo o concelho, de contentores, paragens, espaços públicos, zonas de maior concentração de pessoas e ruas.
Temos ainda, apesar de reduzido e em sistema rotativo, a vassourinha e as senhoras da limpeza, porque mantivemos metade das casas de banho públicas abertas.
Por questões de segurança tirámos a leitura da impressão digital e passámos a ter leitura facial, chamada leitura de telemétrica.

JM – Que outras ações estão a ser realizadas?
RA – Criámos um plano em relação aos resíduos sólidos, no qual informamos a população sobre o modo de fazer a separação de lixo, como este deve ser acondicionado e a que horas deve ser colocado nos contentores.
Em relação à água também temos tido um cuidado especial. Fizemos um pequeno acréscimo de controlo do cloro nada de muito substancial, mas que pode, mesmo assim, alterar ligeiramente o sabor da água, ainda que este vírus não seja transmissível pela água.

Na vertente da veterinária estamos a preparar abrigos extraordinários que, numa situação em que tenhamos de receber pessoas que tenham animais, pudermos dar um encaminhamento aos animais, para isso estamos a montar uma ampliação do canil municipal.

A partir da Comissão Municipal da Proteção Civil (CMPC), que reúne uma vez por semana, foi criada uma subcomissão, que reúne todos os dias, mais focada na área da saúde, da qual faz parte a delegada de saúde, que preside, a nossa responsável pela proteção civil, o comandante dos bombeiros, o comandante da GNR, uma pessoa da área da segurança social e a diretora do Centro de Saúde de Monchique. Nessa reunião fazem o ponto da situação sobre o número de infetados, de pessoas que estão em vigilância ativa, de suspeitos que estão a aguardar análises e fazem esse reporte que depois é articulado com todas as outras entidades.

JM – Os transportes que são da responsabilidade do município também sofreram alterações?
RA – Nós reduzimos os transportes e o número de pessoas por veículo, portanto as carrinhas de nove lugares só podem transportar, no máximo, duas pessoas e os autocarros penso que cinco e não há ar condicionado nos veículos.

Os funcionários foram todos formados para ter esse tipo de comportamentos preventivos e de defesa. Estamos ainda a dar formação a empresas privadas de transportes coletivos, como a Frota Azul e táxis, no sentido de darmos dicas sobre a higienizarão dos veículos e sobre a forma de transporte segundo a atual legislação.

Para além disso, temos feito um conjunto de ações direcionadas a supermercados, padarias, talhos ou restaurantes que têm take away para ensinar as melhores práticas, por exemplo, o uso de máscaras e luvas. E temos trabalhado com a saúde pública.

JM – Foi lançada uma campanha destinada a pessoas de risco para compra de medicamentos e bens essenciais. Como está a evoluir?
RA – Temos duas dimensões desse projeto. Uma é as pessoas telefonarem para nós a solicitar para irmos ao supermercado fazer compras ou à farmácia. Atendemos pedidos não só de bens essenciais para as pessoas, mas também de rações para animais. O importante é que as pessoas fiquem em casa. A outra é quando o supermercado ou a farmácia nos contacta para irmos entregar uma encomenda a alguém.

JM – Há mais alguma ação na área social?
RA – Outra iniciativa que dispomos, em articulação com a GNR, é identificar as pessoas que vivem isoladas e sozinhas, temos 98 idosos nesta situação, que apresentam por vezes carência económica, sem apoio de retaguarda da família, e nós estamos a distribuir um cabaz que deverá durar por alguns dias. Neste caso não é a pedido da pessoa é uma iniciativa social gratuita. Também estamos a dar a alimentação às crianças mais carenciadas que foram referenciadas pela escola. Neste caso a opção, em vez de mantermos uma cantina aberta para as pessoas irem buscar a comida, criámos cabazes semanais em acordo com os supermercados e as famílias ou vão buscar ou nós vamos entregar.

Há também uma linha gratuita [de Apoio Psicossocial às Famílias, Idosos e Pessoas Isoladas do concelho de Monchique, através do número 800 500 344. Pode também utilizar o contacto via e-mail: apoio.psicossocial@cm-monchique.pt. Esta iniciativa está preparada para ser uma voz amiga e um apoio a todos os que se encontrem mais isolados ou se sintam mais sozinhos ou vulneráveis. Será um instrumento importante no fortalecimento da perceção de suporte social por parte da Comunidade de Monchique, contribuindo assim para uma maior resiliência face à situação atual]. Trata-se de uma parceria com a Associação Vicentina e tem três dimensões, uma é o contacto do Centro Apoio à Família com as crianças que estavam a ser acompanhadas, a segunda dimensão é o apoio às famílias, às pessoas que precisam de desabafar ou que estejam muito tempo em casa sozinhas e a terceira são os desempregados da parte do Gabinete de Inserção Profissional em que vamos dar apoio às empresas e aos trabalhadores que tenham dúvidas ou a quem está desempregado e precise de ajuda.

No entanto, acho que o próximo problema vai ser na área do foro da saúde mental, porque as pessoas não estão habituadas a estar tanto tempo fechadas e por isso estamos a antecipar e a preparar este projeto.

JM – Como vai funcionar o Centro de Saúde de Monchique? Como é que as pessoas devem agir se precisarem de uma consulta ou se tiverem dúvida com alguns sintomas do Covid-19?
RA – Quando as pessoas têm algum sintoma de Covid-19 (tosse, febre ou dificuldade respiratória), devem ligar para a linha SNS 24 (808 24 24 24) e foi decidido que no Algarve há três centros de saúde que dão resposta ao nível do Covid-19. Aqui no barlavento é um Centro de Saúde de Portimão. Se precisarem de se deslocar para lá devem fazê-lo em viatura própria ou se não tiverem capacidade, devem telefonar para o Centro de Saúde de Monchique que o médico comunica com os bombeiros para fazerem o transporte.

JM – Assim o Centro de Saúde de Monchique continua a receber doentes com outras patologias?
RA – Continua. Estão a contactar via telefone os utentes com consultas marcadas para que as pessoas não se juntem. A vacinação obrigatória e o acompanhamento de grávidas é feito por marcação.

Também arrancou uma linha de apoio à consulta de psiquiatria – saúde mental, portanto quem tiver necessidade pode ligar pode para o número 924435755, das 10h às 14h. De resto, na área da saúde, estamos a articular tudo com a delegada de saúde.

JM – E os lares do concelho?
RA – Estamos, igualmente a trabalhar de uma forma muito próxima com as IPSS, nomeadamente com os lares de forma a anteciparmos alguma coisa que possa vir a acontecer. Todos têm planos de contingência e estão a pô-los em prática.

JM – Vai ser criada alguma zona no concelho para acolhimento de doentes covid-19?
RA – Estamos a articular com o Agrupamento de Escolas de Monchique para criarmos uma ZAP – Zona de Apoio à População que, no caso das coisas se complicarem, podermos encaminhar as pessoas para aí. É uma questão que é sempre coordenada pela área da saúde, mas está tudo definido. Esta ZAP é semelhante à que fizemos nos incêndios no ginásio da Escola Básica Manuel do Nascimento. Assim, estamos a criar essa estrutura com camas; aliás, está praticamente preparada. Se for necessário encaminharemos para lá pessoas durante o tempo de quarentena ou pessoas infetadas.

Caso haja um surto com um número considerável de infetados, o que eu irei fazer imediatamente é acionar o Plano Municipal de Emergência e usarei todas as ferramentas dessa modalidade, nomeadamente a requisição civil de algum equipamento hoteleiro para transformá-lo numa zona de acolhimento de pessoas com covid-19.

Neste momento já conseguimos dar apoio a alguns pedidos que nos surgiram, mas mais por profissionais, nomeadamente a bombeiros que têm que fazer alguns períodos de quarentena entre turnos e nós disponibilizamos um espaço para que eles possam pernoitar durante esses dias. De resto, espero não chegarmos a essa fase, mas se chegarmos já temos tudo preparado para dar resposta.

JM – Tem conhecimento de alguma tentativa de burla no concelho de Monchique?
RA – Aqui em Monchique ainda não tenho nenhuma notícia dessas, mas já aconteceu em Lagos. E estes amigos do alheio que se estão a acercar de pessoas que vivem mais isoladas e idosos e estão a dizer que vêm vender um medicamento que cura o coronavirus ou vender testes, ou vêm levantar reformas… Isto tudo é mentira, não há ninguém a fazer isso. Neste momento as únicas pessoas que estão a abordar as pessoas são os funcionários da câmara ou das freguesias.

JM – E quanto a deslocações de turistas, nomeadamente caravanas. Está a ser efetuado algum controlo?
RA – A regulamentação que saiu em termos das caravanas era para saírem todas dos parques de campismo e regressarem para os seus países de origem. Eu acho que essa foi uma decisão muito precipitada e não concordo com ela. Estamos a falar de milhares de caravanistas a saírem dos parques de caravanas que se vão espalhar pelo território. E acho que se está a criar um buraco difícil de tapar, porque se vai perder a confiança destes caravanistas na nossa região.

No caso de Monchique, para já, não é um problema grande. Não temos parques de campismo e os parques de caravanas que existem estão encerrados.

JM – Defende, por exemplo, o fecho da região? Haver barreiras à entrada da região para controlar o fluxo de pessoas?
RA – Sim, a única hipótese neste momento é controlarmos as entradas.

Foto de destaque: Entrada da Estrutura Residencial para Pessoas Idosas – D. Maria da Costa Melo Catalão, em Marmelete

Nota de redação: Esta entrevista foi publicada na edição n.º 436 do Jornal de Monchique, no entanto a imagem de destaque refere-se à realização de testes à covid-19 pelo ABC no dia 11 de abril de 2020.

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