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Nutracêutica e os esteróis vegetais

A Nutracêutica é o termo formado pela combinação das palavra “nutrição” e “farmacêutica” e tem como objectivo o estudo dos potenciais benefícos para a saúde do consumo de componentes presentes nos alimentos.

Actualmente é consensual que um dos alicerces de uma vida longa e saudável é uma alimentação variada e regrada, pobre em açúcares e gorduras saturadas. Mesmo depois de se desenvolver doença, a reversão de maus hábitos alimentares é crucial para controlar um amplo conjunto de patologias.

Com frequência, deparamo-nos com publicidade que nos vende componentes nutracêuticos como potencial cura para algumas patologias.  Anúncios que vendem “ossos fortes”, “articulações jovens” ou “sistema imunitário poderoso” não são raros e com frequência são suficientemente persuasivos para alguém que procura uma solução para o seu problema. No entanto, exceptuando as fibras e as vitaminas (quando existe carência comprovada), a evidência científica relativamente ao que é publicitado é fraca ou mesmo nula.

Recentemente alguém me perguntou sobre o amplamente publicitado “Danacol” e decidi investigar!

“O Danacol reduz o nível de colesterol até 10% em 2 a 3 semanas”! É uma afirmação ousada, e embora se refugie na preposição «até», é facilmente verificável!

De facto, existe evidência científica suficiente para afirmar que 1-2 gramas de esteróis vegetais por dia conduzem a uma redução média dos níveis de LDL em 8-10%, e que este resultado é mais significativo em pessoas que têm os níveis mais altos de colesterol. Por esta razão, aparentemente a afirmação é legítima!

Apenas de notar que os estudos consultados não utilizaram o iogurte como veículo, e sim alimentos com gordura, que aumentam a eficácia dos esteróis vegetais. É importante também referir que, na consulta da embalagem e do site da referida marca, não se encontra qualquer referência à dosagem contida em cada iogurte.

Estas moléculas actuam através da inibição da absorção intestinal das moléculas de colesterol, tal como um medicamento de prescrição médica chamado Ezetimibe, embora este último obtenha reduções superiores a 20%.

Estima-se que uma redução do colesterol de 10% conduza a uma redução de doença coronária em 40% aos 50 anos e 20% aos 70. Porém, os estudos que existem são sobre os níveis de colesterol obtidos e não sobre a a doença coronária ou a sobrevida propriamente dita. Uma vez que este tipo de estudos implicaria o acompanhamento de 50.000 indivíduos ao longo de uma década, dado o seu custo nunca virão a ser feitos, logo, ficaremos sem saber se a extrapolação é legítima e se se o consumo de esteróis vegetais se traduz num efectivo resultado de melhoria de saúde.

Adicionalmente, e uma vez que a magnitude de redução de colesterol é maior nos níveis mais altos, torna-se importante referir que os medicamentos frequentemente prescritos para a hipercolesterolémia (estatinas) diminuem os seus níveis em 20-60%. Por esta razão, estes fármacos continuam a ser indispensáveis para indivíduos com médio e alto risco cardiovascular.

 

O MEU CONSELHO MÉDICO:

– Se tem hipercolesterolémia, o primeiro passo será sempre a melhoria do estilo de vida, com alimentação saudável e exercício físico regular.

-Se tem hipercolesterolémia e um risco cardiovascular baixo e enfrenta efeitos adversos com os medicamentos aconselhados, esta poderá ser uma opção válida. A discutir com o seu médico…

– Se enfrenta dificuldades em obter os níveis de colesterol desejados, mesmo sob terapêutica farmacológica máxima tolerada, poderá adicionar esta solução adjuvante.

– Se tomar a opção de consumir este produto como adjuvante à sua terapêutica, encare-o como qualquer outro medicamente e não falhe tomas, pois a sua eficácia depende da regularidade das tomas.

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