Eremitério de Nossa Senhora do Carmo, dos Pegos Verdes

Este convento foi fundado no sítio dos Pegos Verdes, então freguesia de Nossa Senhora do Verde, do concelho de Monchique, pelos eremitas de Santo Antão, vindos do Hospício e Ermitério da Picota, após o Terramoto de 1755, que só aqui terão chegado em 1756, tendo em conta o último enterramento feito na igreja da Picota (20 de Janeiro de 1756).

Vê-se que o cenóbio já estava construído em 1777, pois no dia 1 de Fevereiro desse ano morreu no mosteiro o «monge» Manuel de São Francisco, que «foi sepultado na igreja do ermitério» (TT, Óbitos, Mexilhoeira Grande, 1777).

Em 1832 era bastante pobre, pois apesar da propriedade ter 80 hectares, com «árvores de espinho, figueiras e terras de semear», tinha apenas alguns rendimentos provenientes de «foros, censos e pensões», no valor de 279.240 réis (Lopes, 1841, «Mapa dos Rendimentos das Ordens Religiosas …»).
Após a mudança geográfica o culto manteve-se, apesar da antiga imagem de Nossa Senhora do Carmo ter ficado em Monchique, onde hoje ainda se encontra na igreja matriz.

Com o triunfo constitucional este convento seria abrangido pelo decreto de 30 de Maio de 1834, saído da pena de Joaquim António de Aguiar, o «mata frades», que pôs fim a dois séculos de vida conventual, obrigando os frades a se dedicarem a funções ao agrado e interesses do estado burguês. Foi o fim da sua função religiosa e de assistência e caridade, mesmo com as parcos bens que tinham restado, depois da desamortização pombalina de 1763, que obrigou o mosteiro da Picota a entregar as propriedades foreiras à Santa Casa de Misericórdia de Monchique.

O acto de extinção e posse dos seus bens foi assinado a 3 Julho de 1834, pelo provedor de Portimão, José Júdice Biker, altura em que foi desanexado do concelho de Monchique e passou para o concelho de Portimão, tendo os bens entrado para a Fazenda Pública. Vê-se que ainda se intitulava de «Eremitério de Nossa Senhora do Carmo», mas com os monges pertencentes à Ordem de Santo Antão, encontrando-se o edifício já na freguesia da Mexilhoeira Grande e no concelho de Portimão, devido às alterações autárquicas que se deram nesta ano.

No inventário do mosteiro, muito desfalcado pela guerrilha do Remexido, que tinha feito dele o seu quartel, diz-se que já não há imagens, por estas terem recolhido à matriz da Mexilhoeira Grande.

Na Relação dos Egressos dos Extintos Conventos com assentamento do Thesouro Publico Nacional até Junho de 1838, existente no arquivo do Ministério das Finanças, consta apenas o padre Luís António Correia, como religioso do «Mosteiro de Santo Antão Abb Pegos Verdes», que sabemos que foi o último abade, desconhecendo-se a razão porque ainda aqui vivia.

A «Relação dos Bens Nacionais Situados no Algarve, suas avaliações, e preço dos que tem sido arrematados até ao fim de Novembro de 1840», publicada por João Baptista da Silva Lopes (1841) insere as expropriações a serem vendidas que deram entrada na Fazenda pública, nomeadamente o «Ermitório e igreja de Pegos Verdes, e Cerca do mesmo», ambos avaliados em 400$000 mil réis.

É também João da Silva Lopes, que nos informa em 1841, que «ultimamente estava este hospício bem reparado com uma bonita cerca, quase à borda da estrada».

Como se viu atrás, nas igrejas de Portimão existem duas imagens de Nossa Senhora do Carmo, que deverão ter sido nelas depositadas depois da extinção do convento.

O conjunto estava no início do século XX na posse do escritor e político Manuel Teixeira Gomes, que nele fazia alguns retiros para caçar pela serra, descansar e escrever. Deixou algumas belas páginas sobre o sítio, nomeadamente a novela “D. Joaquina Eustácia Simões de Aljezur”, publicada em Gente Singular (1909) e “O Sítio da Mulher Morta”, saído em Novelas Eróticas (1934).

O edifício ainda hoje lá se encontra, restaurado e servindo de habitação particular.

Notas e Bibliografia

João Baptista da Silva Lopes, Corografia do Reino do Algarve (…), Lisboa, 1841.

Santos Barra, Barlavento, de 16.04.1992, p.8, «Os Monges dos Pegos Verdes, ordem a que pertenciam, o seu viver, o seu esbulho e a sua extinção».

Santo Antão nasceu cerca do ano 250 em Como (Alto Egipto), sendo considerado o fundador do monasticismo cristão. Patrono da ordem dos Antoninos ou de Santo Antão, passou a ser o padroeiro das doenças contagiosas e protagonista de curas milagrosas. Uma delas era o “Fogo de Santo Antão”, uma epidemia que assolou a Europa durante séculos, e que depois se descobriu ter origem num fungo (cravagem) que se alojava no centeio destinado ao pão. Iconograficamente aparece representado como eremita com um bordão, uma cabaça, um livro e ainda com um animal a seu lado (boi ou suíno). Por vezes também é representado com hábito de frade tendo um livro e bengala abacial.

Manuel Teixeira Gomes, Gente Singular, 4.ª ed., Bertrand, 1988, pp.13-31.

Manuel Teixeira Gomes, Novelas Eróticas, 3.ª ed., Bertrand, 1989, pp. 111-142.

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