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A relação entre o canal de parto e a obesidade infantil

Vários estudos têm documentado a ligação entre o excesso de peso materno e a obesidade infantil, sendo ainda difícil de distinguir a proporção do contributo genético vs factores ambientais. Recentemente, foi publicado um estudo sugerindo que o microbioma intestinal (identificação, quantidade e proporção de espécies de bactérias que vivem

no intestino) poderá ter um papel importante nesta correlação.

O estudo Canadiano analisou 935 pares mãe-filho e o primeira conclusão era expectável: Mulheres obesas e com excesso de peso têm maior probabilidade de ter filhos obesos aos 1 e 3 anos de idade.

Mas a parte interessante da história segue-se…

Descobriu-se que quando a mulher obesa tinha um parto vaginal, a probabilidade de obesidade infantil era 3 vezes superior à média da população. Mas quando o parto era por cesariana o risco aumentava em 5 vezes. Este resultado sugeria claramente a influência do canal de parto no desenvolvimentos da obesidade infantil.

O intestino de um recém-nascido é estéril durante a vida fetal e inicia a sua colonização no preciso momento do parto, existindo uma inoculação com origem no canal vaginal. É com base neste momento que se desenvolve o microbioma intestinal do indivíduo, e nos últimos anos tem surgido forte evidência sobre as implicações do microbioma no estado de saúde e de doença.

Assim sendo, existindo uma suspeita prévia, foi realizada uma colheita de fezes a todos os lactantes  aos 3 meses de idade. Verificou-se que a quantidade de uma bactéria chamada Lachnospiracae se correlacionava fortemente com o peso infantil, e que as crianças nascidas por cesariana tinham o dobro da probabilidade de ter altos níveis desta espécie de bactéria.

Este estudo traduz a influência que o canal de parto tem na colonização bacteriana do pequeno organismo e o seu efeito importante e duradouro na saúde infantil.

O parto por cesariana é um procedimento cirúrgico frequentemente necessário, que salvou
incontáveis vidas maternas e de recém-nascidos ao longo das últimas décadas. Este deve ser realizado quando o benefício é maior do que o risco, sendo inúmeras as situações, por exemplo um canal de parto estreito, patologia materna que contra-indica as manobras de parto, cesarianas prévias, má-apresentação do feto, placenta prévia,
ausência de evolução do canal de parto, entre outras

Numa cesariana electiva sem indicação médica está a assumir-se um risco desnecessário e a evidência científica tem vindo a reforçar esta ideia nos últimos anos.

Existem consequências a curto prazo, como o aumento de complicações no puerpério materno e no período perinatal do lactente, menor probabilidade de lactação materna e potencial menor vínculom mãe-filho.

A lista de potenciais consequências a longo prazo na saúde da criança continua a crescer, nomeadamente a maior probabilidade de desenvolvimento de asma brônquica e de obesidade infantil.

O MEU CONSELHO MÉDICO:

– Na ausência de indicação médica para a realização de parto por cesariana, prefira um parto vaginal. Por si e pelo seu filho!

Professor universitário – Nova Medical School | FCM- Universidade Nova de Lisboa

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